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Design Solar: Discussão sobre aproveitamento de energia solar.

Muito falamos de design solar no projeto e construção da casa, isto significa como podemos aproveitar a energia que o sol nos fornece em todas as suas formas. A este tema, costumamos tratá-lo de forma teórica e/ou com alguns exemplos extraídos do arcabouço de conhecimentos a disposição nas redes de permacultores ou de nossas práticas pessoais.

Alguns exemplos práticos, e com detalhes construtivos, já foram postados aqui neste Blog. Assim podemos lembrar dos post sobre construção, produção de biodiesel, luzes led, aquecimento de água com o rocket stove, algumas engenhocas, etc. Mas queria fazer uma reflexão mais profunda e com propostas a respeito do tema energia solar.

Não me cabe dúvida que o aproveitamento da energia solar de forma direta é a forma mais eficiente de usarmos esta energia disponível de forma global e democrática. A energia solar, luz e calor, são as formas de expressão energética mais abundantes no planeta… Só falta a explicitação das possibilidades e meios para o seu aproveitamento e utilização.

As formas diretas de aproveitamento da energia radiante do sol são, por exemplo:

  • O design solar passivo no projeto de construção da casa, como por exemplo: o sol entrando pelas janelas no inverno (luz e calor), e evitar o sol no verão (calor);

  • a iluminação natural e o aquecimento de fluidos (pedra, ar ou água);

  • ventilação por convecção, que é o aproveitamento do calor como bomba convectiva para as trocas de ar;

  • acumulação de calor em massas térmicas durante o dia e liberação na noite fria, etc.

    Mas também existem formas indiretas de aproveitar a energia solar, estas requerem um pouco de conhecimento teórico e tecnologias auxiliares para concretizar a sua utilização. Por exemplo:

    • Aquecedor solar: aproveitar o calor solar (irradiação infravermelha) para aquecer e acumular calor em fluidos, como (água, ar, óleos).
    Aquecedor de água solar
    • Uso da energia: (luz solar) acumulada na biomassa como combustível, sejam sólidos (lenha), líquidos (biodiesel, álcool, óleo vegetal, etc.), ou gasosos (biogás, hidrogênio, etc.).
    Fogão com serpentina para aquecer água
    Fogão de lenha

    Conversão fotovoltaica de luz solar em

    • Conversão fotovoltaica de luz solar em energia elétrica.

    Dentro deste contexto queria fazer uma série de reflexões a respeito do aproveitamento da energia solar (luz) no momento em que estamos frente a possibilidade de falta de energia elétrica e racionamentos, pensando que esta situação tende a piorar nos próximos anos. Esperamos que, com o tempo, possamos mudar a matriz energética, e que as formas de produção de eletricidade dependam mais de recursos renováveis e de baixo impacto ambiental.

    Barragem hidrelétrica

    Na concepção permacultural gostamos de pensar de forma a resolver nossas necessidades, dentro do possível, de forma local e com baixo ou nenhum impacto negativo. Parte importante desta solução começa por REDUZIR o uso, usando Leds, não usando chuveiros elétricos, ou ar condicionado.

    O diagnóstico local a respeito a energia elétrica, tanto no projeto da Vila YvyPorâ (no pé da serra litorânea), como no projeto Waikayú (no planalto Catarinense), pode-se resumir da seguinte forma:

    • Resolver a questão da queda de energia elétrica, do provedor, de forma intermitente; que já chegou a faltar por até três dias.
    • Dentro do possível, ser autossuficientes em energia elétrica, colaborando com a diminuição da demanda de energia elétrica da rede local; e diminuir também, o impacto do aumento de preço e o racionamento da energia elétrica, previsto no pais, pela crise hídrica.

    Com esse intuito, e partindo da primeira questão, há cinco anos comecei um processo de pesquisa e análise da disponibilidade de equipamentos, dos seus custos e a qualidade destes para a produção, armazenamento e conversão de energia elétrica.

    No começo foi a necessidade de resolver as quedas de energia elétrica o que me mobilizou. Para isto decidi construir um nobreak grandão.

    No último ano, agregou-se a necessidade de pensar e buscar os meios para a produção de eletricidade local.

    Dimensionamento do equipamento básico (nobreak).

    Para isto fui registrando o consumo elétrico, dos aparelhos caseiros, os tempos de uso, e por último: Quanto de estes serviços tinham a ver, diretamente, com as necessidades básicas e o conforto a que estamos acostumados?

    Esta pesquisa, de serviços, a fiz baseado no consumo elétrico e potência instalada mínima, necessária na minha casa… Sempre para satisfazer as necessidades básicas e mantendo o conforto.

    Assim construi uma tabela com estas informações:

    Geladeira ou freezer (1)90 W (10 horas)900 W
    Ilha de Informática (comunicação)20 W (10 horas)200 W
    Luzes led (5)50 W (5 horas)250 W
    Televisão, rádio, som.100 W (5 horas)500 W
    Três ou quatro tomadas estratégicas (de baixo consumo), max. 5 A., de uso descontínuo.Potência:
    260 V.a/h
    Consumo/dia:
    1.850 W

    Deste modo cheguei à conclusão que com um nobrek de até 1 Kw, de potência, e com a capacidade de armazenamento em baterias de até 800 A (12 V * 800 A= 9.600 W ), era mais do que suficiente.

    Pode parecer nada! já que nas casas, atualmente, estão instalando potencias de 50 A ou mais. Quer dizer: 50A x 220V= 11Kw.

    Mas, a ideia é suprir as necessidades básicas frente a queda de energia. Quer dizer: manter os serviços essenciais; não é o intuito do sistema resolver o 100 % da demanda possível numa casa. O sistema é de baixa potência, baixo custo; é para manutenção do conforto e segurança.

    Para usos que requerem de alta potência instantânea usamos a rede elétrica local, esta nos abastece com até 50 A ou 60 A, em instalações monofásicas.

    A diferença de custos dos equipamento e a sua instalação crescem tanto, ao aumentar a potencia, que acabam inviabilizando a iniciativa. Pensemos na diferença entre investir algo como R$4.000 ou valores de $R 20.000, $R 30.000 ou $R 40.000 para cima (valores em $R, setembro de 2021).

    Então, a pesquisa me levou a provar diversos equipamentos, enquanto a qualidade e funcionalidade. Assim cheguei a conclusão de que, com um investimento acessível, dava para satisfazer as nossas necessidades.

    Do ponto de vista técnico a instalação de um nobreak requer: de um carregador de bateria (ou fonte de 12 V CC – 60 A); bateria/s de 12 V CC – 400 A; um controlador de caga 12/24/48 V CC – 40 A; e um inversor de corrente de 12 V CC para 220 V CA, e uma potência de 3000/4000 W . Então, todos dimensionados segundo os valores de potência e consumo elétricos previstos.

    Estes equipamentos devem ser sobredimensionados (em alguns em até o dobro, no que se refere a seus valores nominais), isto no que respeita a sua capacidade e potência. Assim se a potencia nominal é de 4000 W não superar os 2000 W na demanda de consumo. Desta forma duram muito mais e cumprem com o serviço previsto.

    Para isto instalei e interconectei:

    • Um carregador de bateria (fonte estabilizada, flutuante) de 12 V, 60 A.
    • Duas baterias (ácido/chumbo) de 12 V, 400 A c/u; total 800 A.
    • Um controlador de carga de 40 A.
    • Um inversor de corrente 12 V CC – 220 V CA, 4000 W. Onda Senoidal modificada.

    • Criando um Nobreak poderoso:

    Com isto se resolve a autonomia (em até três dias) no consumo elétrico que satisfaz as necessidades básicas familiares de comunicação (internet-modem-wifi), lazer (som, televisão), conservação de alimentos (freezer ou geladeira) e tomadas estratégicas para serviços de baixo consumo como podem ser um ventilador, carregar celulares, computador, etc.

    Logo poderei postar as discussões e instalação de um sistema fotovoltaico híbrido off grid (SFH – off grid). Que não é outra coisa que o nosso nobreak que também estara ligado a painéis solares.

    Observação: O que vem a seguir é para quem tenha interesse em detalhes técnicos detalhados, não é imprescindível para compreender o artigo.

    Na busca de equipamentos a preço acessível provei várias marcas e dimensionamento de equipamentos que se vendem no mercado; muitos deles são importados da China e considerados suspeitos, quanto à sua qualidade e durabilidade. Por isso os comprei super sobre dimensionados. Só que estes produtos, que não são homologados pelo INMETRO, custam muito menos. Além disso, a outra questão, é a discussão da onda do inversor; isto também influencia no custo do nosso equipamento. Um inversor homologado vale de 5 a 10 vezes mais que um sinusoidal modificado, para a mesma potência. Não discuto a qualidade do equipamento homologado pela INMETRO… o que falo é como resultado da relação custo/benefício.

    Não tenho nada em contra ao uso de um inversor de onda sinusoidal ou senoidal.

    Que, aliás, é a onda que requerem todos os equipamentos que usamos de forma cotidiana.

    Mas, muitos equipamentos suportam, ou se comportam bem, com onda sinusoidal modificada; quer dizer a onda quadrada corrigida.

    Em resumo: luzes, geladeira/freezer, os eletrônicos em geral, pequenos motores, resistências funcionam satisfatoriamente (sugiro sempre provar antes o equipamento a usar com onda modificada).

    Um outro tema são as baterias. Neste sistemas são necessárias baterias para a acumulação de energia para as horas em que não haja energia da provedora local ou, em sistema fotovoltaicos, quando é de noite.

    Baterias são hoje um dos fatores poluentes mais indesejados. Mas, podemos usar as baterias menos impactantes… e que por sorte são as mais baratas. As velhas e bem conhecidas baterias de ácido/chumbo, para que tenha mais de 30 anos lembrará dessas baterias, que usávamos no carro e que requeria de um cuidado cada vez que parávamos no posto para abastecer.

    Estas baterias são passíveis de ser recicladas, reusamos as carcaças plásticas e derretemos o material condutor (que é vazado num cadinho de refino e transformado em lingotes), que são vendidos como matéria prima secundária para a fabricação de uma nova bateria. A solução eletrolítica de ácido sulfúrico também e reutilizada. Dizem que hoje o Brasil está em condições de reciclar entre 80% a 90% dos componentes de uma bateria. As baterias que usamos são as ácido/chumbo ESTACIONÁRIAS, não é a bateria comum de carro. As estacionárias suportam bem as descargas profundas que acontecem nas horas sem recarga. Hoje a melhor opção são as que se usam nos carros com som, aqueles que passam infernizando a nossa vida! Bom, essas com 400 A/h, custam 1/4 por A em comparação com as automotivas.

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    Desidratador de cogumelos, frutas e verduras (continuação).

    Como prometido no post de origem do tema, estamos postando o resultado do primeiro uso do desidratador.

    Como nesta época do ano não temos produção própria, e participamos da compra de orgânicos do Orgânicos Serrano para aquilo que não produzimos, encomendamos alguns quilos de maçãs orgânicas. Assim começamos com a preparação e acondicionamento da fruta.

    Primeiro a higienização e descascado das maçãs com o nosso descascador.

    Este descascador tem a particularidade que já deixa a fruta descascada e fatiada num espiral contínuo, e separa o coração da maçã. Isso simplifica e acelera o trabalho, além de deixar todos os pedaços com a mesma espessura, o que facilita a desidratar igualmente.

    Aqui as rodelas acondicionadas nas bandejas.

    Agora é carregar as bandejas no desidratador, pela sua frente:

    Uma vez carregado, podemos cobrir com o pano que vai promover a circulação do ar quente no interior do desidratador; fazendo com que o fluxo de ar leve a umidade para fora do sistema, pela abertura da frente.

    Já coberto instalamos o aquecedor apontado à entrada no fundo do desidratador, e o ar saindo pela frente.

    De seis a oito horas depois, dependendo do material a desidratar, temos o resultado…

    Neste caso uns deliciosos chips de maçã bem secos e saborosos.

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    Desidratador de cogumelos, frutas e verduras.

    Neste ano fomos surpreendidos pela alta produção de cogumelos (na clássica eclosão massiva de cogumelos nos primeiros dias de frio, no outono, e logo depois de uma chuva), no Projeto Waikayu, em São José do Cerrito – Planalto Catarinense – SC. Nesta região existem muitos reflorestamentos com Pinus sp., e nós mesmos estamos plantando Bracatingas – Mimosa scabrella. É nestas florestas que aparecem espontaneamente os cogumelos de vários gêneros diferentes.

    Então, em vista disto, começamos a estudar, principalmente no livro Primavera Fungi, do Jeferson Müller Timm e iniciamos a coletar e experimentar este recurso alimentar das nossas florestas. Uma coisa que nos impressionou foi a fartura e a brevidade da “safra”, o que colhíamos era impossível consumir, e queríamos conservar este recurso. Assim, buscamos várias soluções, como fazer conservas e, com estudos, nos propusemos utilizar um desidratador para conservar alimentos.

    Começamos desidratando os cogumelos acima do fogão de lenha, colocando o escorredor de louça carregado de cogumelos cortados, e cobertos com pano de prato para conservar o calor.

    Foi tão boa a experiência que decidimos utilizar a técnica de desidratar para conservarmos cogumelos, frutas e verduras.

    Quando pesquisamos na internet para ver preços de desidratadores… nos surpreendemos com os preços dos equipamentos. Claro que os desidratadores oferecidos são todos muito tecnológicos, cheios de controles (termômetros, temporizadores, etc) com regulação de vazão de ar, sistemas diversos de aquecimento inteligente, etc, etc, etc. Mas todos tem um custo inacessível, são milhares de reais.

    Então, voltamos ao nosso sistema simples e singelo.

    Foi ali que pesquisando na rede encontramos um arquivo, da EMBRAPA, que falava de um desidratador de baixo custo que era promovido para a agricultura familiar.

    Foi este arquivo que inspirou o protótipo que estamos apresentando aqui. A fonte de calor é um mini aquecedor de ambiente, elétrico, de baixo custo.

    O modelo proposto na EMBRAPA tem um desenho muito interessante, mas achamos ainda muito rígido e complexo na sua construção. Baseados na nossa experiência no fogão, achamos legal continuar com a ideia de cobertura de tecido… como condutor do fluxo de ar.

    Sempre tivemos a preocupação de publicar propostas tecnológicas que resolvam necessidades e/ou problemas que são enfrentados pelos nossos seguidores. Mas, uma permanente preocupação, tem sido publicar soluções que sejam facilmente replicáveis por todos.

    Quando fizemos aquele primeiro ensaio de desidratação, no fogão, tomamos o cuidado de registrar a temperatura de desidratação; e percebemos que o ideal é uma temperatura de entre 45°C e 55°C. Para isso utilizamos um termômetro digital com baterias, que sempre nos acompanha em todos os nossos ensaios (se compra por dúzias na rede e custa menos de R$10,00.)

    O ensaio seguinte foi usar o aquecedor de ambiente (tínhamos um, em casa, era de uma das nossas filhas). Assim armamos o mesmo sistema em cima do fogão desligado… mas, agora com o aquecedor. Medimos a temperatura num processo de secado e conferimos uma temperatura ao redor de 50°C.

    Outra vez um resultado exitoso! Isto nos encorajou a projetar, e construir, um desidratador de baixo custo e de construção muito simples.

    Vamos lá com o nosso protótipo:

    Começamos construindo as bandejas que achamos necessárias para uma batelada de desidratação, aproximadamente 5 kg de vegetais ou cogumelos.

    Assim escolhemos como bandejas umas fruteiras da loja de produtos populares.

    Logo unimos duas e cobrimos com tela de passarinho. Assim, cada bandeja ficou com 60 por 41cm.

    Isto definiu o tamanho do nosso desidratador. Ele será de 60 cm de profundidade e 36 cm de altura, com guias cada 6 cm para cinco prateleiras. Na foto abaixo a vista de uma das laterais.

    Logo a largura será de 41 cm, assim podemos determinar as dimensões totais do nosso protótipo. Na foto abaixo, as duas laterais com os trilhos para cada bandeja.

    Armamos a estrutura de madeira com cantoneiras de alumínio, contraventadas para dar rigidez.

    Nesta etapa já podemos colocar as prateleiras e ver o desidratador tomando forma.

    Assim é o nosso desidratador protótipo:

    Passo seguinte foi recobrir, todo ele, com tela de passarinho. Isto ajuda mais ainda a ar uma boa estruturada e protege de possíveis visitantes indesejados. Observe que as bandejas não chegam até o fundo da estrutura. Isso permite que a ventilação aconteça mais livre na entrada do ar quente.

    Na frente construimos uma porta com perfil de alumínio e tela de mosquiteiro, para evitar entrada de insetos quando estiver trabalhando.

    Então, aqui está o modelo funcional completo

    O detalhe final é cobrir com tecido para promover a circulação do ar quente e a saída da umidade.

    Nas próximas semanas devemos fazer testes diversos com algumas frutas. A ideia é que nosso próximo post seja um vídeo mostrando estas experiências.

    Publicado em Artigos e livros, Zona 3 - cultivos em escala

    Árvores, Gado e Saúde Ambiental

     Neste post apresento a realização de um sonho que motivou muitas conversas de dois jovens na década de 70, que viajavam mais de 1000 km por semana, dando aulas.

    Com meu amigo Pedro, parceiros de viagem e como ministradores das cadeiras de Silvicultura em Faculdades do Noroeste Argentino (NOA), passávamos horas conversando e maquinando projetos florestais, criação de gado ou cultivos industriais diversos, no contexto da paisagem das nossas viagens, que era nas regiões áridas e semiáridas do Noroeste argentino.

    Passaram-se quase 50, o meu amigo Pedro converteu-se no Engenheiro Agrônomo Pedro E. Valls, professor de Silvicultura na Faculdade de Agronomia da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. Pelas suas atividades e inquietudes extracurriculares converteu-se num  fazendeiro florestal que criou e estabeleceu um sistema silvopastoril que passo a apresentar aqui.

    Este artigo surgiu num jornal clássico da cidade de Córdoba na Argentina. Fiz a tradução e o apresento neste blog para que possamos apreciar um sistema com quase 30 anos de implantado.

    Artigo original publicado no Jornal “La Voz del Interior”, setor “Agrovoz”18/10/2013, Córdoba, Argentina

    Jornalista responsável: Alejandro Rollán  

    “A criação numa floresta de pinus com poucas chances para o fogo.”

    A mãe e sua cria estão em perfeito estado. A novilha cruza Angus, com algo de sangue Brangus, faz poucas horas que pariu o terneiro que já desloca-se pelos seus próprios meios. O que mais chama a atenção é onde se produz esta imagem. Não é nenhuma região de cria tradicional. É a mais de mil metros sobre o nível do mar dentro de um maciço de Pinus elliotiis plantados na serra “Los Comechingones”, 30 quilômetros ao norte de “Río de Los Sauces”.

    O bom estado das matrizes se vê favorecido por um desmame precoce (La Voz).

    Nessa altitude já não há espécies nativas; só os pinos implantados, com boas práticas de manejo, o que tem permitido fazer uso mais eficiente da água, num regime de chuvas de até 900 milímetros ao ano. Assim evitam-se as enxurradas e se evita  a degradação das pastagens desta região serrana semiárida, onde os gêneros de Stipa sp. e  Festuca sp. cobrem o cenário.

    Nestas condições, Pedro Eduardo Valls tem em marcha,  faz quase 30 anos, um modelo silvopastoril em seu estabelecimento “La Yunta”.

    “Este sistema com trabalhos culturais de poda e pastoreio racional tem nos permitido abaixar o risco dos incêndios, pela diminuição do material combustível seco e a maior umidade relativa do ambiente. O manejo junto com a eliminação do material combustível, mediante podas, nos tem permitido extinguir focos de incêndio que de outra forma poderiam ter gerado danos totais”, sustentou Valls em diálogo com “La Voz del Campo”.

    Pouco para queimar

    Dentro do estabelecimento, um maciço implantado em 1992 mostra alguns rastros mínimos deixados por um incêndio em junho de 2011, quando se queimaram 250 hectares. “O fogo não encontrou combustível para fazer dano e hoje as pastagens naturais estão recuperadas. O pinus, pela sua parte, tem uma cortiça resistente e a ausência de ramas evita que o fogo suba nas copas”, reconheceu o produtor.

    Hoje, nesses lotes, já há gado pastando e a evolução das pastagens é ótima.

    Em novembro passado, 30 hectares com plantações de nove anos também foram atacadas pelo fogo. “A umidade no solo fez que seus efeitos fossem reduzidos e hoje tem uma boa recuperação do recurso”, destacou Valls.

    Nesta região semiárida, o impacto da floresta influi decididamente no ecossistema. “A evolução, o desenvolvimento e a sucessão dos pastos são influenciados, conseguindo esticar o ciclo de aproveitamento das espécies, com maior porcentagem de proteínas por parte do recurso natural através do ano, e aumentando os quilogramas de matéria seca que se produzem de acordo ao manejo florestal que se faça”, assegura Valls.

    Além do uso mais racional das pastagens dominantes na região (Festuca sp. e Stipa sp.), o aporte de nutrientes e a sombra das árvores tem permitido o desenvolvimento de outras espécies forrageiras autóctones, de melhor palatabilidade para os bovinos, e que permaneciam dormentes.

    “Nos contrafogos, a pastagem está no seu tamanho natural, mas dentro dos bosques seu tamanho é menor. São espécies heliófilas que precisam da luz para se desenvolver. Na sombra das árvores elas diminuem e dão lugar à aparição de outras espécies de folha larga, como as dicotiledóneas, com maior qualidade forragera. Em alguns casos tem se recuperado até 30 espécies originais”, afirmou o produtor.

    O efeito das plantações, nos animais, é também determinante. A temperatura media dentro da floresta aumenta aproximadamente 2ºC no inverno e diminui 2ºC no verão, o que faz com que diminua, nos animais, a energia metabólica requerida para a manutenção do seu conforto. “Aumenta o ciclo biológico das pastagens, aportam mais proteína e qualidade, o que se reflete na nutrição, na pelagem e no preço dos terneiros na feira ”, observou Valls.

    Cria na floresta

    (La Voz).

    Numa superfície de mil hectares florestadas, um plantel de 250 mães configura o modelo de cria neste setor.

    Com uma carga animal de 150 quilos por hectare, o que se traduz numa vaca cada 2,5 hectares, o aproveitamento da pastagem natural se faz de forma racional.

    O recurso forrageiro está dividido em 11 piquetes com aproximadamente 100 hectares cada um. Ali as vacas e terneiros pastoreiam entre 7 e 12 dias até ficarem, no máximo, 25 dias em épocas quando se faz pressão no excedente.

    Segundo Valls, o tempo que os animais permanecem na pastagem é mais crucial que a quantidade de cabeças que o pastorejam. Em “La Yunta”, os serviços são sazonais e por inseminação artificial. A porcentagem de prenhes alcança 75 por cento. Historicamente, os terneiros se desmamavam aos cinco meses e meio com 150 quilos de peso. Ainda que, a seca que golpeia a zona nos últimos anos, tenha obrigado a fazer um desmame antecipado com 110 quilos para preservar o estado corporal dos ventres e garantir as prenhês do próximo ano. Uma recria sobre a base de milho leva o terneiro ate 190 quilos.

    Alejandro Seyfarth, assessor florestal, e Pedro Valls, proprietário de “La Yunta”, em um piquete de pinus e pastagem (La Voz).

    Produção de madeira

    O manejo do recurso florestal é também de alta eficiência. Cada um dos hectares florestados conta com 800 plantas. Com o plano de raleio “a perda” (se extraem as plantas de menor diâmetro que não servem para madeira) e de extrações sucessivas, se atinge aos 25 anos, uma população de 300 árvores para a corta final. “Hoje estamos com uma taxa de extração de meio hectare ao dia, o que representa arredor de 100 toneladas por dia”, precisou Valls.

    Há uma tendência a nível mundial de aproveitar toda a árvore, incluindo os restos da tala que ficam no campo. “Estamos incentivando a que se utilize a limpeza da floresta como um subproduto. Por exemplo, utilizar a casca do pino ou o chip para fazer energia, igual ao que se faz em outros países”, afirmou o assessor florestal Alejandro Seyfarth, que também participou da visita de campo pela propriedade “La Yunta”

    O reflorestamento conta com incentivos econômicos por parte do governo federal argentino e a Província. Para ter direito a este incentivo, o produtor deve certificar que no ano de inicio o projeto atingiu o 95 por cento das plantações que vingaram. O máximo é até 300 hectares, como uma estratégia para incentivar aos pequenos produtores. Ao longo da vida do subsídio, seus efeitos sobre o investimento do produtor tem sido variados. Com a estabilidade econômica representaram uma compensação importante ao respeito do capital investido. Ainda que, seus efeitos diluam-se em épocas de inflação. “O negocio florestal com a pecuária é compatível e melhora substancialmente a rentabilidade dos sistemas de cria na região. Mas é necessário um manejo integrado já que, do contrário, o negocio não é nem florestal nem pecuário”, advertiu Valls.

    Estabelecimento “La Yunta”

    Produção florestal. Mil hectares plantadas com Pinus elliotiis, com uma densidade de 800 plantas por hectare. A taxa de extração é de 120 toneladas de madeira por dia.

    Produção pecuária. Um plantel de cria de 250 vacas, com uma carga animal na pastagem de uma vaca cada 2,5 hectares. Os terneiros se vendem para invernada com 170 quilos de peso.

    Cadeia forrageira. Pastoreio rotativo de espécies naturais (Festuca sp. e Stipa sp). A premissa é que o tempo que os animais permanecem na pastagem é mais importante que a quantidade de animais que pastoreiam no local.

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    Relações e conexões “tudo está ligado com tudo”

    Em tempos de pandemia, publicamos uma reflexão do Jorge Timmermann de um dos princípio do design em permacultura, vindo da observação dos sistemas naturais” tudo se conecta com tudo“. Mais atual, impossível! Que o momento de CAOS, gere o novo! Força, Gente!

     

     Tudo se conecta com tudo

    Jorge Timmemann

    Quando falamos de Permacultura dizemos que ela é holística e coerente com uma abordagem sistêmica enquanto a sua visão de como viver no planeta Terra. Ela nasce no século passado (Bill Mollison e David Holmgren, 1975) como uma síntese e proposta metodológica, no seio das várias correntes de expressões ambientalistas e ecologistas mundiais da época.

    A nossa cultura nos últimos séculos (idade Moderna, séculos 15, 16, 17) foi nos afastando da natureza em consonância com o avanço do conhecimento científico; sendo que isto último, longe de ser um problema, foi um custo necessário. O conhecimento humano tinha explodido num universo de saberes onde a Física e a Matemática fizeram o papel preponderante, dentre as outras ciências, em decorrência do acumulo de novos conhecimentos/evidências científicas que explicavam o antes inexplicável: Universo, Matéria e Energia.

    Mas, no seio desta revolução do pensamento, mecanicista e cartesiana, já existiam os primórdios de uma nova concepção no que diz respeito à compreensão do nosso mundo, da natureza, como uma unidade sistêmica. Em referência a isto, podemos lembrar que Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o precursor do método científico, logo consagrado na Revolução Científica (séculos 16 e 17) na linha dos trabalhos de Nicolas Copérnico, Johannes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon, Renné Descartes e Isaac Newton. Também é de destaque o fato que a “ciência” de Leonardo não era para dominar a natureza… senão que se espelhava nela; no dizer de Fritjof Kapra “Esta atitude de considerar a natureza como modelo e mentora (dos seus projetos) está sendo, novamente, incentivada 500 anos depois de Leonardo, na prática do planejamento ecológico”(Fritjof Kapra (2014) A Visão Sistêmica da Vida-, pag. 30). A Permacultura no seu Método de Design segue esta mesma corrente de pensamento.

     

    Então, a partir dos séculos seguintes (e já na idade contemporânea, séculos 18, 19 e 20) foram-se aprimorando saberes que nos levam ao conhecimento e compreensão atual sobre Sistemas.

    Einstein perguntado sobre o seu brilhantismo, disse que estava apoiado nos ombros de gigantes que vieram antes dele. Neste contexto é que podemos conceber a Permacultura como a ciência de restabelecer conexões, apoiada em muitos que vieram antes e simultaneamente a Bill Mollison e David Holmgren.

    Quando nós, permacultores, falamos de conceitos de ecologia ou de princípios dos sistemas naturais, dizendo que “tudo está conectado com tudo” não fazemos outra coisa do que nos referirmos a uma das caraterísticas mais permanentes e imanentes da natureza:

    “O universo dos seres vivos, a vida, no planeta Terra

    está construído sobre uma sequência de funções, ciclos

    e sistemas dentro de sistemas”.

    Nada está fora desta configuração… Tudo foi-se complexando a partir das relações entre todos os elementos e suas relações.

    Em outras palavras, a biosfera é a consequência da vida como “emergente” das suas relações multidimensionais entre todos os elementos que compartem o espaço e o tempo; sejam estes orgânicos, inorgânicos, estruturais, paisagísticos, climáticos ou topográficos, etc.

    Fazer Permacultura é pensar e agir sistemicamente; é perceber a complexidade das relações do todo e criar condições, conexões, que permitam que estas se expressem, difundam e prosperem.

    Alguma vez falamos que o Permacultor trabalha, no seu dia a dia, alimentando solo e sistematizando água. Fora do contexto permacultural isto pode ser visto como de estrema arrogância: como que nós vamos determinar o quanto, quando e com que o solo vai se alimentar e onde deverá estar a água? No nosso contexto, indica a intensão expressada em atividade diária, de permitir que se estabeleçam as condições mínimas para que o sistema, a nossa paisagem, possa nos prover do que estamos precisando… seja alimento, materiais de construção (fibras vegetais, madeira) água potável, etc. Ou seja permitir que as conexões, as relações existentes entre todos os elementos na nosso entorno possam se manter incólumes a pesar dos nossos impactos locais.

    O ser humano é um elemento mais e não está fora da natureza, ainda que isto último e por alguns séculos, fosse a concepção generalizada, expressa no “crescei e dominai”. Somos parte da vida do planeta, que nos dá vida, e como sistema, podemos, facilmente desaparecer, e a vida na terra seguirá.

    Então, que elemento é este o “elemento humano?” Podemos dizer que o que nos caracteriza é:

    “ser conscientes da nossa consciência”

    Com esta qualidade podemos saber o quanto somos responsáveis pelos impactos que produzimos, e quanto isto compromete o futuro da humanidade e do Planeta.

    Estava eu conversando com um amigo… e surgiu o seguinte: “Se acabar a lenha que já estoquei… compro mais na cidade”

    Visto no contexto do nosso “tradicional” dia a dia, de ser simples consumidores, acharíamos absolutamente aceitável. Mas… ficou uma pulga atrás da minha orelha:

    “Claro, no contexto de satisfazer as minhas necessidades

    o lógico é comprar mais…”

    Mas no contexto ambiental amplo fica claríssimo como, neste agir, não existe nenhuma consciência das conexões e relações implícitas existentes.

    Se você consome um recurso que você colhe, neste caso lenha, (mas poderia ser a água, ou uma cenoura, ou um litro de combustível, etc.), você dimensiona e sabe quanto isto custa em energia/esforço/tempo e como deverá ser consumido (limítes ao consumo); e quanto isto tem a ver com a permanência, e o que é mais importante:

    “Não é um Recurso Natural, é um Serviço oferecido a você gratuitamente pela natureza”

    Na Permacultura se definem três princípios éticos que norteiam as ações do permacultor. Este exemplo serve para compreender o terceiro princípio que se refere ao seguinte:

                        -Limites ao consumo;

                                                                      -Partilha justa;

                                                                                                            -Consumo consciente

    O permacultor deverá ser consciente de “como” e “quanto” aproveita e usa os recursos e serviços na sua volta e quais as “conexões” que estes têm com o meio; podendo assim estabelecer uma relação harmônica entre necessidade e permanência. Conhecer e/ou sentir as conexões é a chave para permitir a sua permanência e/ou reestabelecimento.

    Esta habilidade é “desenvolvida” e “treinada” na prática do viver a Permacultura. Na foto abaixo, a propriedade do permacultor Remi Beckauser em SC, uma enorme zona 3 para produção de renda.

    O Curso de Design em Permacultura (PDC) é um start para atiçar a sensibilidade das pessoas e orientá-las para um caminho de estudo e ação (teoria e prática); que possam se espelhar na ética da Permacultura, como filtro das suas ações e nos princípios de design para a construção dos espaços humanos permanentes; espaços humanos de religação (conexão) com o ambiente.

    Na foto abaixo, grupo do PDC 2018 em Yvy Porã.

    Por isso falamos que um permacultor que ministra PDC tem um compromisso triplo frente aos ouvintes:

    -Clareza e abertura  na leitura dos “contextos”, tanto do espaço, como dos cursantes e dos conteúdos.

    Rigor  nos “conceitos” que embasam estes conteúdos.

    – E tolerância  e abertura a uma multiplicidade de técnicas/”conteúdos” que possam alavancar a construção dos novos espaços.

    O instrutor de PDC deve ter as competências tanto para ser um generalista que aprofunda nos “conceitos”, apoiado nos princípios de design, como um sistêmico que observa holisticamente o seu entorno, tanto na prática permacultural como no curso.

    Também por isso falamos que o permacultor, que é instrutor no PDC, deve zelar com rigor pela coerência do curso enquanto à correlação dos conteúdos totais e transmitir o seu dia a dia e a sua prática vivencial.

    O PDC não é um acumulado de técnicas chamativas nem uma contestação a um sistema anacrônico. É uma proposta sistêmica e holística para a construção de espaços humanos para a permanência.

    O PDC é um curso ministrado por um permacultor, ele é o responsável pela coerência e correlação dos conceitos e conteúdos. Havendo a possibilidade da participação de outros instrutores, é de fundamental importância que exista UMA pessoa responsável, de forma presencial, em todo o período do PDC, o que chamamos de âncora do curso. Ele assegura a coerência,  mantém a linha e estabelece  que as conexões não sejam só uma utopia almejada… senão uma realidade na concretização da expressão:

    “Todo está ligado com tudo”.

    Versão em PDF Relações e conexões

    Publicado em Artigos e livros

    CONTEXTO CONCEITO CONTEÚDO

    Os 3 Cs,  de onde vieram? O que são?

    Falamos que a permacultura não é um conjunto de técnicas, mas muito mais uma proposta de ética, que para ser aplicada usa princípios de design e finalmente, escolhe técnicas apropriadas a este ou aquele contexto. A partir deste olhar, junto a minha história de vida como educadora surgiu a proposta dos três “C”:

    Contexto- Conceito- Conteúdo

    Disso falamos muito nos cursos, em conversas com permacultores e também neste blog. Mais de uma vez nos pediram referências de onde saiu esta síntese. É disto que se trata esta postagem, da origem dos “Três Cs”.

    Há alguns anos, que remontam à década de 2000, começamos a trazer para as formações de permacultores educadores e posteriormente para as formações de instrutores de curso de design em permacultura ( PDC) embasamentos de educação, com estudos que propunham um diálogo entre Paulo Freire, Vygostki, Piaget, Fernando Hernández, Phelippe Perrenoud, Pichon Rivière; e os criadores da permacultura Bill Mollison e David Holmgren. A proposta era embasar e instrumentalizar permacultores com ferramentas básicas da pedagogia, manejo de grupos, etc. Assim aconteceram várias reuniões da Rede Permear e, posteriormente, outros cursos.

    Na foto abaixo a formação de instrutores 2011 , na escola Autonomia em Florianópolis.

    Cada um destes cursos propostos e mediados por mim, traziam o fazer cotidiano aprofundado nos 25 anos de atuação na Escola Autonomia, de Florianópolis e também a atuação na educação de jovens e adultos do campo no PRONERA UFSC, I-Terra RS e no projeto Saberes da Terra.

    Na foto abaixo, atividade do projeto Transdisciplinar na Escola Autonomia de Florianópolis,ano 2009.

     

    Falar um pouco da minha atuação na Autonomia se faz necessário, por fazer parte da minha história e construção, amadurecimento e engajamento na educação, foi ali que “nasceu” a síntese dos 3Cs. Nesta escola, além da atuação em sala de aula, também fazia assessoria com professores mais jovens sobre como trabalhar com projetos de aprendizagem, o que era uma proposta diferenciada da escola. A síntese dos três Cs se fez com base no construtivismo, isto é, que as crianças traçassem o caminho de questionar-se, construir um conhecimento, mais do que decorar e simplesmente reproduzir os conteúdos curriculares.

    Explicando: a escola chamada tradicional ensina conteúdos, raramente explica a ideia, o conceito por trás dos mesmos, e mais raramente ainda dá a resposta aos educandos quando eles perguntam “onde e quando vou usar isso?”, principalmente à medida em que os conteúdos se tornam mais complexos.

    Como um educador planeja sua atuação, tendo em vista a realidade da década de 2000, dos tempos escolares (200 dias letivos), carga horária e conteúdo curricular da disciplina? Bem, pensar sobre o tripé educando (quem são estes sujeitos, faixa etária, interesses, contexto social, etc), educador (quem sou, interesses, familiaridade, etc), e finalmente conteúdos (o que o social e historicamente a sociedade espera que eu ensine à esta nova geração neste momento, nesta disciplina) traz a ideia de pensar um problema para propor ao grupo, que leve à necessidade de uma determinada ferramenta para a sua solução (conteúdo).

    Na foto abaixo, a construção de uma mini oca, com o primeiro ano  da professora Gi, em 2012. Esta oca era a tenda dos livros num projeto de alfabetização.

    Para trabalhar com projetos a ideia é justamente partir de um problema significativo para os sujeitos envolvidos, o que não quer dizer um espontaneísmo, ou deixar o grupo num compasso de espera para decidir o que pesquisar. Os projetos de pesquisa tem como base um problema proposto para que o grupo desenvolva pesquisas e soluções, e neste caminhar acontece a aprendizagem. O problema a ser proposto tem como base no tripé formado educando- educador- conteúdos e nesta interação acontece a construção de conhecimentos.

    Na foto abaixo, a turma de 3º ano da professora Lucrécia,que tinha  um projeto de horta, e contou com a assessoria do Jorge. Neste projeto estudaram medidas,  seres vivos e alimentação.

    Com isso se muda a perspectiva de processo, que não deve ter como prioridade apenas os conteúdos. A perspectiva é o CONTEXTO (sujeitos, sociedade onde vivem ) CONCEITO ( qual a ideia que o problema traz) e finalmente o CONTEÚDO ( a ferramenta que será usada na resolução do problema), e chagamos ao conhecimento e a uma aprendizagem significativa. Um dos exemplos para ilustrar é na matemática, o aprendizado da regra de três para crianças de 12 anos. A regra de três é a ferramenta, a técnica, o conteúdo: Se a/b = c/d então a.d = b.c. Qual o CONCEITO que dá origem a esta regra? É um dos conceitos mais importantes para o ensino de matemática, estatística, física, química, entre outras: o conceito de Proporção. Mas onde este conceito surge e onde faz sentido? Qual o CONTEXTO onde ele aparece? E qual o Contexto que faz sentido e desperte a curiosidade para crianças de 12 anos? %, densidade populacional, estatísticas sobre assuntos diversos, etc.

    Nas fotos acima e  abaixo, Suzana numa saída de estudos  da escola Autonomia à São José do Cerrito, no projeto “Duas cidades diferentes, ou nem tanto” onde matemática, geografia e língua Portuguesa estudavam Florianópolis e Cerrito, com dados estatísticos e culturais. Este projeto com os sétimos anos aconteceu de 2002 a 2012, e teve variadas formas, mas o impactante era que pré adolescentes urbanos conhecessem a vida de uma cidade pequena e rural,  percebendo a diversidade do mundo, culturas, e a relação campo-cidade e a interdependência  entre todos.

    O diagrama abaixo ilustra a ideia de quem “cabe” em quem: o conteúdo cabe no conceito, pois tem sua origem nele. O conceito cabe e tem sua origem num contexto, em determinando momento sócio-historico-cultural- ambiental.

    Esta estratégia de repensar o conhecimento coloca o educador numa outra relação com seus saberes e pensar em como tudo faz sentido para o outro, numa:

    Educação amorosa e altruísta, pensando sobre o pensar do outro.

    Isto extrapola os limites das disciplinas escolares , e pode ser usado em qualquer contexto de aprendizagem, formal e informal.

    Quando me construo como permacultora, após meu PDC com Jorge Timmermann, em 2002, passo a compartilhar os saberes de educadora no contexto de permacultores, seja no blog de Yvy Porã iniciado em 2007, seja nos encontros e cursos de formação de permacultores – educadores; também aqui os três Cs mostram-se super adequados, e passam a outro patamar, extra escolar.

    Muitas vezes percebo, no blog ou em conversas, que as pessoas entendem a permacultura como conjunto de técnicas. Isto pode ser o como usar super adobe para fazer uma casa, sem sequer ter o terreno para a construção da mesma; ou querer plantar mirtilos na Bahia; ou pedem para fazermos cálculos para a cisterna, sem saber quanto chove no local. Talvez isso aconteça pela grande carência das pessoas em buscar receitas ou respostas imediatas e simples aos seus problemas. Para sair da armadilha das receitas, a volta aos 3Cs sempre ajuda, por exemplo, sobre a construção da casa: “onde você está? Qual o clima, qual o terreno? Qual a ideia para sua casa? Quem vai morar nela? Que material tens disponível? Isso leva a refletir sobre o CONTEXTO. Os CONCEITOS vem a seguir, e são construir com materiais locais, uma moradia adequada, confortável, design solar, emissão zero. Só então, e finalmente vem a técnica ou o CONTEÚDO: será de super adobe, ou taipa leve, vai ter banheiro seco ou com água, qual a melhor posição no terreno, etc.

    Outra pergunta recorrente, que pode ajudar a exemplificar os 3 Cs é sobre saneamento, por exemplo: banheiro seco ou banheiro com água? Banheiro com ou sem água são opções e para cada uma podem ter mais de uma técnica, um conteúdo. O conceito que vem antes é o princípio de não poluir. Quem deveria definir que banheiro será feito é o contexto , ou seja, local, clima, oferta de água, pessoas que utilizarão as instalações.

    Ou seja, sintetizando:

    Contexto– é o que norteia suas ações e decisões… Onde está, quais os princípios éticos que vai seguir, quem você é e em qual ambiente se encontra, o que o meio te oferece?

    Conceito– os princípios mais detalhados, ou seja, o “por que” fazer algo de uma ou outra forma. Qual a ideia fundamental que será o crivo? Como permacultores: leitura de paisagem, segurança, busca de fechar ciclos, conectar elementos, baixíssimo impacto ambiental, não desperdiçar, etc.

    Conteúdo– aqui entram as técnicas e materiais que são muitos, variados e fáceis de se achar na internet.

    Então, este é o relato de como uma síntese feita numa educação amorosa e respeitosa com as novas gerações, dialogou com o ser permacultora e vem ajudando nos diálogos produtivos com educadores e permacultores. Minha alegria é enorme e para mim, fica demostrado, mais uma vez que, seja nas aulas de matemática na Escola Autonomia, ou numa resposta no blog de Yvy a ética de CUIDAR DAS PESSOAS permeando nossas ações sempre rendem bons frutos.

    Publicado em Contando a história, Cursos, Cursos PDC

    Ano novo, novas escolhas, novos caminhos

    Todos início de ano divulgamos com muita alegria, a realização do Curso de Design em Permacultura de Yvy Porã. Alegria em compartilhar saberes, alegria em abrir o espaço da vila Yvy Porã para um grupo interessado em ver e vivenciar por nove dias a permacultura. E em 2020 não será diferente, na semana da Páscoa, de 4 a 12 de abril realizaremos o nosso PDC.

    O Curso de Design em Permacultura chamado de PDC tem um currículo oficial proposto por Bill Mollison, numa publicação chamada Syllabus , ele é o mesmo, dado no mundo todo, com carga horária mínima de 72 horas. Sugerimos a leitura da postagem “afinal, o que é um PDC?” no link.

    Curículo do Syllabus de Bill Mollison

    Curso de Design em Permacultura

    • Introdução
    • Princípio dos sistemas naturais
    • Metodologias de design
    • Padrão no Design
    • Perfil Clássico da Paisagem
    • Solos
    • Design para Catástrofes
    • Prédios e estruturas
    • Tecnologia de conservação de energia apropriadas
    • Florestas e árvores
    • A Água na Paisagem
    • A Ecologia Cultivada
    • Aquacultura e Maricultura
    • Disposição das sobras e reciclagem
    • Gerenciamento da Vida Selvagem
    • Sementes e estufas

    Parte 2 – As estruturas invisíveis do Assentamento

    • Reciclagem na Comunidade
    • Economia Informal / Formal
    • Acesso à terra e Sistemas Urbanos
    • Formas Legais
    • Desenvolvimentos da Vila
    • Comércio
    • Como os “trainees” em Permacultura Operam

    O PDC de Yvy segue este currículo, atualizando alguns aspectos da parte 2 (afinal, o Syllabus foi escrito em 1983)  com uma ampliação de carga horária para 82 horas aula. Adaptamos o curso à perspectiva da pedagogia de Paulo Freire, com a aprendizagem significativa para os sujeitos, partindo do contexto e da realidade de cada grupo. O curso de permacultura abrange um extenso conteúdo em um tempo restrito, e no mundo todo é um curso com muitas aulas teóricas, nosso PDC segue este pressuposto, mas consegue incluir oficinas e práticas ilustrativas ou motivadoras de dúvidas para as aulas teóricas.

    Além do seu currículo, em todo curso, seja sobre o que for, é sempre bom estar atento à pelo menos três pontos que acabam criando a identidade do mesmo: os instrutores, o local, a alimentação.

    OS INSTRUTORES

    O PDC é um curso denso e cheio de conteúdos, e ao contrário do que se pode pensar, o número de instrutores deve ser reduzido, afinal , a proposta é que o permacultor seja um grande generalista, então os instrutores devem dar o exemplo. Manter a coerência e uma certa “linha de pensamento” é fundamental, para que não se transforme numa colcha de retalhos. Somos 3 instrutores Jorge Timmermann, Suzana Maringoni e Gardel Silveira, todos permacultores com mais 16 anos vivendo e praticando a permacultura. Jorge é o que chamamos “âncora” do curso, que assiste a todas as aulas, costurando os assuntos, e mantendo a linha do que está sendo dado. Suzana, além de vários temas teóricos, organiza as práticas e cuida da organização da cozinha, juntamente com a Dona Ilse. Gardel trabalha várias aulas teóricas e as práticas relacionadas à alguns temas.

    Um breve currículo de cada um dos instrutores:

    Jorge Timmermann, biólogo e ecólogo, professor por muitos anos de  silvicultura e pesquisador em ecologia em universidades na Argentina. Vive no Brasil desde 1995, formou-se permacultor com Geoff Lawton em 1998 e, a partir dai, passou a atuar com agricultores familiares, ONGs, Projetos com universidades que visavam o desenvolvimento local, e prefeituras do interior em Santa Catarina ministrando cursos PDC e acompanhando as práticas destes sujeitos. Diplomado por Bill Mollison como Permaculture Education and Designer em 2002. Fundador do Instituto de Permacultura Austro Brasileiro e presidente da Rede Brasileira de Permacultura. Fundador da Rede Permear. Em 2007 fez o curso de “Princípios avançados em permacultura” com David Holmgreen. Ministrou cursos de Permacultura por todo o Brasil de 1998 até 2015, quando passou a ministrar apenas o PDC de Yvy Porã e fazer algumas participações especiais em outros cursos. Desde 2011, juntamente com sua companheira Suzana, vem trabalhando a formação de instrutores para cursos PDC. Em 2003, com a concretização do projeto Yvy Porã, dedicou-se à construção deste espaço, tanto na parte privativa da Casa da Montanha (relatada neste blog desde 2007), como nos encaminhamentos dos novos integrantes da vila. Também atua no projeto Waikayu, em São José do Cerrito, onde estamos implementando  um manejo agrosilvopastoril para exploração de madeiras em ciclos permanentes.

    Suzana Maringoni, educadora, trabalhou com ensino fundamental com crianças de 1983 a 2013, ganhando duas vezes o prêmio Professor Nota dez. Na escola Autonomia foi da equipe de coordenação e implementação das oficinas Transdisciplinares, assessorando toda a parte da relação com o ambiente, ecologia, e permacultura. Trabalhou com educação de jovens e adultos do campo no PRONERA UFSC entre 2002 e 2007, e no Instituto Josué de Castro (ITERRA – RS) com a turma de magistério entre 2006 e 2008. Formou-se permacultora com Jorge Timmermann em 2002.

    Em 2007 fez o curso de “Princípios avançados em permacultura” com David Holmgreen, como fruto deste curso, escreve o livros “Lendas do Saber – permacultura e histórias para cuidar da terra e das pessoas” juntamente com os parceiros Gardel Silveira e Keila Pavani (editora Insular SC 2008). Desde 2008 vem ministrando PDCs com Jorge Timmermann.

    Fundadora da Rede Permear, onde ministrou vários cursos sobre ” Ser Educador” para permacultores da rede. Em 2011 idealizou e implementou a Formação de Instrutores de PDC, que juntamente com Jorge vem ministrando a cada dois anos, apenas para permacultores com prática. Em 2003 fundou Yvy Porã e em 2007 começou o Blog Yvypora.wordpress.com compartilhando o processo de construção e implementação do projeto. Em 2013 começa o projeto da estação de Permacultura Waikayu, em São José do Cerrito, onde além do casal Jorge e Suzana, também abriga a família de uma das filhas (Lola, Fernando e o pequeno Thomy).

    Gardel Silveira, fez seu PDC em Florianópolis em 2003, certificado por Jorge Timmermann. Há 16 anos pratica a permacultura no Sítio Curupira. Criou e mantém o blog www.sitiocurupira.wordpress. para divulgar as atividades do sítio e curiosidades sobre o meio ambiente.

    Participou dos cursos Construção de Zona 1 (Jorge Timmermann), Princípios Avançados em Permacultura (David Holmgren), 1° Formação de Instrutores para PDC de Yvyporã (Suzana Maringoni), Curso para Professores de Permacultura (Marsha Hanzi), Agroecologia Módulo I e II (Epagri), Construção de Horta Sucessional Biodiversa (Ernest Götsch) e Agricultura Sintrópica (Rômulo Araújo).

    Desde 2016 tem participado como facilitador em PDCs em Santa Catarina e na Formação de Instrutores para PDC de Yvy Porã.

    Nos anos de 2018 e 2019 participou como instrutor na formação dos alunos de Protetor Ambiental nos municípios de Águas Mornas e Santo Amaro da Imperatriz, ensinando sobre permacultura e princípios de ecologia.

    O LOCAL

    Yvy Porã é uma estação de permacultura em São Pedro de Alcântara SC fundada em 2003 por um grupo de permacultores que tinha o projeto de viver a permacultura num projeto coletivo. O nome “ESTAÇÃO de PERMACULTURA” foi um dos traços do perfil da rede Permear de Permacultores, fundada em 2002, dizíamos que estação significava um lugar de ESTAR, para acolher pessoas, de forma permanente, ou transitória. Então Yvy Porã, que significa Terra Boa na língua guarani, é um espaço para acolher e vivenciar novas oportunidades, construindo soluções à crise usando como base a permacultura.

    Hoje a vila Yvy Porã se compõe de dez famílias, com 4 casas construídas ou em processo de construção, algumas morando definitivamente na vila e vivendo a permacultura. Desde 2012, quando a reforma e ampliação da casa mãe, uma construção alemã de 1929, foi minimamente concluída, passamos a ministrar um e só um curso PDC por ano em Yvy, sempre na semana Santa. A casa mãe acolhe e abriga o grupo durante estes nove dias. É um curso para um grupo pequeno, vivendo num ambiente permacultural numa imersão intensa. A casa mãe conta com 4 quartos (3 de casal e um com 3 camas de solteiro) e um grande sótão, que é o dormitório coletivo. Para quem desejar acampar, temos o gramado e o entorno da casa mãe.

    A ALIMENTAÇÃO

    A alimentação durante o curso é farta e diversificada. A maioria dos alimentos é orgânico e regionais. Priorizamos as compras de fornecedores locais orgânicos, como a Dona Ilse, que fornece leite, manteiga, nata, queijo, biscoitos, galinhas e ovos. As verduras, legumes e frutas da estação são do Xisto, agricultor orgânico da vizinha Antonio Carlos, suco de uva, mel e frutas também vem do sítio Raízes, de São José do Cerrito, dos permacultores Pedro Marcos e Eluza.

    Nossa cozinha respeita várias opções de alimentação, somos onívoros, mas quem opta por uma alimentação vegetariana, vai se comer bem, com uma alimentação integral, rica em vegetais. Ou seja, nossa cozinha não é vegetariana, comemos as galinhas caipiras, e bois que pastam, trazidos de fornecedores conhecidos. Os pratos compostos de carne são separados do restante. Seguindo a ética de cuidar da terra a água que usamos vem das nascentes ou das chuvas, e os efluentes são tratados e devolvidos ao sistema.

     

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    I Permasul- Nossa participação 2

    Na semana passada compartilhamos nossa participação no I Permasul- Convergência de Permacultores do Sul do Brasil, contando brevemente como vivemos este lindo momento, e disponibilizando a apresentação da Suzana Maringoni “Permacultor: protagonista da própria vida”.

    Hoje, conforme publicado, compartilhamos o texto base da palestra do Jorge Timmermann “Diálogo entre teoria e prática”. Lembramos que estas publicações são apenas base para uma palestra de uma hora, assim, propomos o diálogo na área dos comentários.

    Diálogo entre teoria e prática

    Jorge Timmermann

    Bom dia! Como sabem, eu sou Argentino, e lá tive a base da minha formação, seja na graduação em Biologia, nas pós graduações como entomólogo, microbiólogo e ecólogo, e numa primeira fase de vida profissional como professor universitário e outros projetos. Ou seja, toda a minha vida de Biólogo-Ecólogo (1970-1995), teve em seu seio a discussão da importância da teoria e a prática.

    Nos últimos anos, (1995-2019), desde que passei a viver no Brasil, meu perfil profissional mudou um pouco com permacultura, e esta preocupação não tem sido diferente. Mas a “polarização” à respeito segue, com defensores de ambos o lados , por um lado a prática, dita a “mão na massa!”, como se ela fosse suficiente para adquirir conhecimento… E, por outro lado, espremendo-se virtudes da teorização como que fosse um nível superior do saber.

    Duas posições extremas que não reconhecem o valor central do saber, apoiado tanto no método científico como na teoria do conhecimento, que é a criação de modelos mentais teóricos, no que diz respeito a determinados conhecimentos e logo a práxis, ou prática, que nos leva a confirmar os supostos teóricos.

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    I Permasul – Nossa participação

    Em primeiro lugar, nos desculpamos pela ausência de postagens nos últimos meses. Às vezes perdemos o ritmo de parar para escrever, e também por que os projetos Yvy Porã e Waikayu andam bastante dinâmicos, e o tempo para escrever fica meio perdido.

    Na postagem de hoje, vamos compartilhar o que foi a nossa participação na I convergência de permacultores do sul do Brasil – I PERMASUL, que aconteceu entre 18 e 21 de julho de 2019, em Florianópolis.

    Convergências de permacultores são encontros regionais, nacionais, ou mundiais que acontecem para troca, encontro, debates, exposições, sem no entanto ter nenhum caráter deliberativo. É realmente uma convergência de ideias e ideais, de sentir que existem parceiros e iguais no mundo. O Brasil é muito grande, e nunca se conseguiu fazer uma convergência brasileira, embora em 2007, tenha ocorrido aqui a convergência mundial, que foi sediada no IPEC.

    Frente ao sonho e vontade de fazer estes encontros, no Brasil, quem saiu na frente foi o pessoal do Ceará, que já vai para sua terceira convergência.

    Aí, agora em 2019, recebemos um telefonem da Rafaelle Mendes dizendo que havia uma equipe organizando a primeira convergência do sul do Brasil, e nos convidavam, pela nossa história e trabalho, a participar como palestrantes. Ficamos, Jorge e Suzana, bastante animados, orgulhosos de que a nova geração de permacultores sérios, tenham encarado este desafio, que não era nem simples, nem pequeno.

     

    A I PERMASUL aconteceu em Florianópolis, na UFSC, foi um momento lindo, e ganhou quem esteve presente nos 4 dias de encontro! Foram muitas conversas, um belo astral, e uma organização bem bolada: haviam palestras, rodas de conversa, grupos de trabalho e discussão sobre temas de algumas das pétalas da flor da Permacultura: Educação, Economia e finanças, Bem estar psico físico espiritual, Espaço construído, Posse da terra e governo comunitário. Só temos que reconhecer e valorizar a iniciativa de Martin Ewert e Mildred Gustack Delambre, que deram um start e reuniram a equipe que pensou e preparou o evento: Alessandra Tavares, Fabio Vaccaro, Martin Ewert, Mildred Gustack Delambre, Rafaelle Mendes, Waldomiro Aita Neto, Viglio Schneider, Cecília Prompt,  Daniel Philippsen, Beatriz Horongoso e agradecer aos demais voluntários que colaboraram durante o evento.

    Ao mesmo tempo em que ficamos honrados com o convite, nos questionamos sobre o que falar? O que seria interessante de levar para o grupo? O que levar para uma conversa entre permacultores? Entre muitas conversas e reflexões, decidimos que não seria um relato do que vivemos nos projetos, pelo menos, não diretamente. Buscamos temas de reflexões para trocar ideias e abrir horizontes.

    Suzana foi para o lado do viver a permacultura, como forma de autonomia, autoria, independência, buscando “sair da caixinha” e propor um olhar mais amplo sobre como e onde viver a permacultura, discutindo a questão de economia e finanças, fartura etc que sempre aparecem como um entrave a ser permacultor. Permacultura não é carreira, não é emprego, é modo de vida, e que propõe ser sustentável. Assim, surgiu o tema“Permacultor: protagonista da sua vida”.

    Jorge demorou mais em organizar sua fala, haviam muitas coisas que poderiam ser, e no fim o foco da fala foi “Diálogo entre teoria e prática”, fazendo uma reflexão sobre o permacultor que sem prática fica no vazio, e sem teoria pode levar a experimentos duvidosos e perigos.

    Então, teremos duas postagens, nesta primeira divulgaremos em PDF os slides da fala da Suzana. Lembrando que os slides são uma guia de uma fala de uma hora, então, claro que pode haver questões, dúvidas! Fiquem à vontade para perguntar e assim, seguiremos ampliando o diálogo da Permasul, ainda que no virtual!

    “Permacultor: protagonista de própria vida” – Suzana Martins Maringoni3convergencia permasul2019

    Publicado em Espaço Waikayu, Produção de alimentos, Zona 3 - cultivos em escala

    O trabalho das ovelhas

    No design cada elemento deve cumprir pelo menos 3 funções, e ter suas necessidades supridas por mais de uma fonte. Este exercício de fazer conexões se chama análise dos elementos, uma das tarefas que compõem o design da propriedade, e que deve ser feito cada vez que se pensa em introduzir um novo elemento no projeto.  A análise de elementos inclui estruturas, plantas, cultivos e obviamente, animais.

    Animais são fundamentais num design, desde fauna nativa, como animais domesticados, ao longo da história da humanidade. Eles polinizam, adubam, roçam, dão alimentos, etc. Um permacultor também entende a função dos animais como conexões das zonas. Na foto abaixo vacas pastando sob o parreiral no sítio Raízes,

    Como muitos permacultores tem origem urbana, o capítulo “animais” é sempre um desafio, já que nos expõe à nossa ignorância, aos nossos medos e à questão da responsabilidade frente a outro ser vivo, com decisões de vida e morte.  Animais felizes são os que fazem o que nasceram para fazer, e aí nos incluo.  Tratá-los com respeito e atenção, nos ensina mais de nós mesmos do que dele.

    Demoramos para introduzir novos animais em Waikayu, embora estivessem contemplados no design desde os primeiros rabiscos. Nas zonas 3 de pastagens, as vacas estiveram presentes desde o primeiro dia. Mas nas áreas das bracatingas e eucaliptos, neste 4 anos, deixamos as árvores crescer e a roçadeira fez o papel que seria dos animais- mantendo as pastagens nativas. Na foto abaixo, a pastagem sob as bracatingas.

    Então, finalmente, fizemos a tarefa estudamos, pesquisamos e decidimos pela introdução das ovelhas. Abaixo, o registro da nossa análise dos elementos.

    Continuar lendo “O trabalho das ovelhas”