Fazer uma casa assim, com as nossas mãos é uma experiência e tanto… Partilhar este processo, abrindo as portas para outros que querem ver, fazer, estar é também nossa proposta. Temos tido muitos amigos ajudando, mas todos conhecidos de outras caminhadas- Rodrigo, Cecília, Revero, Mariani e Isabel, Jorge André, Tadê, Carol, Marco Aurélio…
Daniel Monteiro Lacerda é o primeiro “voluntário desconhecido”, quer dizer, o primeiro que tivemos contato apenas por mail e que veio para estar e colocar as mãos na massa! Grandes expectativas, uma certa ansiedade: como será isto?
Foi muito, muito bom! Partilhamos o tempo, o alimento, o trabalho…E pedimos um relato destes dias em Yvy Porã. Então, esta postagem é deste relato do Daniel, que depois desta vivência virou mais um grande amigo!
Na foto abaixo, Daniel e Suzana na porta da casa Mãe de Yvy Porã.

No princípio foi a tinta. Eu havia recém-pintado a minha casa com a terra do meu bairro, vermelha como a do projeto da casa de Suzana e Jorge em Yvy Porã, comentei a respeito na comunidade Permacultura do Orkut e ela fez contato.Daí à ida para lá foi um pulo.
Minha passagem por Yvy Porã ilustra como o tempo é relativo. Com três dias a menos do que o previsto, seriam apenas dois dias incompletos e tanto trabalho a se fazer… Após uma noite de conversas, a primeira manhã de trabalho, eu ansioso para ver como funcionava a taipa socada, levantei cedo e fui lá conferir a dureza da parede. Bati uma, duas, três vezes, aumentando a força. É firme mesmo.
Ansioso por receber as instruções e pôr mãos à obra, fiz a “troca de turno” com o Revero. Minha ansiedade foi por terra, quando, ao dar-me as instruções, Jorge deu-me uma aula em que falava não somente da técnica, mas do modo de fazer e da filosofia da permacultura.“Observe um trabalhador rural experiente. Ele parece lento, parece não estar fazendo esforço, mas gasta o tempo e a energia necessários para cumprir sua tarefa. Ele não se cansa à toa. Conhece seu ritmo. No final do turno de trabalho ele cumpriu o dever do dia.”.
Révero passando o pilão para o Daniel

Falando sobre o fazer a sua casa: “Se a pessoa prefere pagar, tem à disposição bons profissionais que projetam e constroem uma bela ‘casa rústica’ com textura de taipa e acabamento perfeito em muito menor prazo. Ou então você decide que vai construir sua casa’, e a faz no tempo que der, como der, com imperfeições, diferenças na umidade e na socagem da massa…”, “Não precisa pagar 50, 100 mil para se fazer uma boa casa. É possível fazer com 5.”… “Mas essa casa só pode ser construída na zona rural; se fosse na cidade, o projeto nem seria aprovado, não receberia o ‘habite-se’, pois o uso de água pluvial e o sanitário seco fogem às normas sanitárias urbanas.”
Entendi que princípios norteadores da permacultura, como o de zoneamento, podem ser aplicados de acordo com as configurações do local e a sensibilidade dos ocupantes. Em Yvy Porã, a zona 1 do Jorge e da Suzana (residencial) se encontra vizinha à zona 5 (não-interferida), quase mescladas. Fomos visitar a reserva, onde reina uma figueira tricentenária, com seus portentosos galhos e raízes dominando o local e servindo de suporte para diversas espécies. Ao vermos como ela “constrói” seus galhos, podemos aprender sobre engenharia e arquitetura; e pela retenção de água, terra e nutrientes feita pelas raízes, aprendemos sobre manejo de solo.
Na foto abaixo, Jorge olhando a parede ao lado da porta, feita no capricho com a ajuda do Daniel.

Partilhar a companhia de Jorge e Suzana é, ao mesmo tempo, prazeroso e instrutivo. Cada conversa com eles pode render material publicável, de grande proveito para todos os que se interessam pela construção de um mundo melhor.