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Árvores, Gado e Saúde Ambiental

 Neste post apresento a realização de um sonho que motivou muitas conversas de dois jovens na década de 70, que viajavam mais de 1000 km por semana, dando aulas.

Com meu amigo Pedro, parceiros de viagem e como ministradores das cadeiras de Silvicultura em Faculdades do Noroeste Argentino (NOA), passávamos horas conversando e maquinando projetos florestais, criação de gado ou cultivos industriais diversos, no contexto da paisagem das nossas viagens, que era nas regiões áridas e semiáridas do Noroeste argentino.

Passaram-se quase 50, o meu amigo Pedro converteu-se no Engenheiro Agrônomo Pedro E. Valls, professor de Silvicultura na Faculdade de Agronomia da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. Pelas suas atividades e inquietudes extracurriculares converteu-se num  fazendeiro florestal que criou e estabeleceu um sistema silvopastoril que passo a apresentar aqui.

Este artigo surgiu num jornal clássico da cidade de Córdoba na Argentina. Fiz a tradução e o apresento neste blog para que possamos apreciar um sistema com quase 30 anos de implantado.

Artigo original publicado no Jornal “La Voz del Interior”, setor “Agrovoz”18/10/2013, Córdoba, Argentina

Jornalista responsável: Alejandro Rollán  

“A criação numa floresta de pinus com poucas chances para o fogo.”

A mãe e sua cria estão em perfeito estado. A novilha cruza Angus, com algo de sangue Brangus, faz poucas horas que pariu o terneiro que já desloca-se pelos seus próprios meios. O que mais chama a atenção é onde se produz esta imagem. Não é nenhuma região de cria tradicional. É a mais de mil metros sobre o nível do mar dentro de um maciço de Pinus elliotiis plantados na serra “Los Comechingones”, 30 quilômetros ao norte de “Río de Los Sauces”.

O bom estado das matrizes se vê favorecido por um desmame precoce (La Voz).

Nessa altitude já não há espécies nativas; só os pinos implantados, com boas práticas de manejo, o que tem permitido fazer uso mais eficiente da água, num regime de chuvas de até 900 milímetros ao ano. Assim evitam-se as enxurradas e se evita  a degradação das pastagens desta região serrana semiárida, onde os gêneros de Stipa sp. e  Festuca sp. cobrem o cenário.

Nestas condições, Pedro Eduardo Valls tem em marcha,  faz quase 30 anos, um modelo silvopastoril em seu estabelecimento “La Yunta”.

“Este sistema com trabalhos culturais de poda e pastoreio racional tem nos permitido abaixar o risco dos incêndios, pela diminuição do material combustível seco e a maior umidade relativa do ambiente. O manejo junto com a eliminação do material combustível, mediante podas, nos tem permitido extinguir focos de incêndio que de outra forma poderiam ter gerado danos totais”, sustentou Valls em diálogo com “La Voz del Campo”.

Pouco para queimar

Dentro do estabelecimento, um maciço implantado em 1992 mostra alguns rastros mínimos deixados por um incêndio em junho de 2011, quando se queimaram 250 hectares. “O fogo não encontrou combustível para fazer dano e hoje as pastagens naturais estão recuperadas. O pinus, pela sua parte, tem uma cortiça resistente e a ausência de ramas evita que o fogo suba nas copas”, reconheceu o produtor.

Hoje, nesses lotes, já há gado pastando e a evolução das pastagens é ótima.

Em novembro passado, 30 hectares com plantações de nove anos também foram atacadas pelo fogo. “A umidade no solo fez que seus efeitos fossem reduzidos e hoje tem uma boa recuperação do recurso”, destacou Valls.

Nesta região semiárida, o impacto da floresta influi decididamente no ecossistema. “A evolução, o desenvolvimento e a sucessão dos pastos são influenciados, conseguindo esticar o ciclo de aproveitamento das espécies, com maior porcentagem de proteínas por parte do recurso natural através do ano, e aumentando os quilogramas de matéria seca que se produzem de acordo ao manejo florestal que se faça”, assegura Valls.

Além do uso mais racional das pastagens dominantes na região (Festuca sp. e Stipa sp.), o aporte de nutrientes e a sombra das árvores tem permitido o desenvolvimento de outras espécies forrageiras autóctones, de melhor palatabilidade para os bovinos, e que permaneciam dormentes.

“Nos contrafogos, a pastagem está no seu tamanho natural, mas dentro dos bosques seu tamanho é menor. São espécies heliófilas que precisam da luz para se desenvolver. Na sombra das árvores elas diminuem e dão lugar à aparição de outras espécies de folha larga, como as dicotiledóneas, com maior qualidade forragera. Em alguns casos tem se recuperado até 30 espécies originais”, afirmou o produtor.

O efeito das plantações, nos animais, é também determinante. A temperatura media dentro da floresta aumenta aproximadamente 2ºC no inverno e diminui 2ºC no verão, o que faz com que diminua, nos animais, a energia metabólica requerida para a manutenção do seu conforto. “Aumenta o ciclo biológico das pastagens, aportam mais proteína e qualidade, o que se reflete na nutrição, na pelagem e no preço dos terneiros na feira ”, observou Valls.

Cria na floresta

(La Voz).

Numa superfície de mil hectares florestadas, um plantel de 250 mães configura o modelo de cria neste setor.

Com uma carga animal de 150 quilos por hectare, o que se traduz numa vaca cada 2,5 hectares, o aproveitamento da pastagem natural se faz de forma racional.

O recurso forrageiro está dividido em 11 piquetes com aproximadamente 100 hectares cada um. Ali as vacas e terneiros pastoreiam entre 7 e 12 dias até ficarem, no máximo, 25 dias em épocas quando se faz pressão no excedente.

Segundo Valls, o tempo que os animais permanecem na pastagem é mais crucial que a quantidade de cabeças que o pastorejam. Em “La Yunta”, os serviços são sazonais e por inseminação artificial. A porcentagem de prenhes alcança 75 por cento. Historicamente, os terneiros se desmamavam aos cinco meses e meio com 150 quilos de peso. Ainda que, a seca que golpeia a zona nos últimos anos, tenha obrigado a fazer um desmame antecipado com 110 quilos para preservar o estado corporal dos ventres e garantir as prenhês do próximo ano. Uma recria sobre a base de milho leva o terneiro ate 190 quilos.

Alejandro Seyfarth, assessor florestal, e Pedro Valls, proprietário de “La Yunta”, em um piquete de pinus e pastagem (La Voz).

Produção de madeira

O manejo do recurso florestal é também de alta eficiência. Cada um dos hectares florestados conta com 800 plantas. Com o plano de raleio “a perda” (se extraem as plantas de menor diâmetro que não servem para madeira) e de extrações sucessivas, se atinge aos 25 anos, uma população de 300 árvores para a corta final. “Hoje estamos com uma taxa de extração de meio hectare ao dia, o que representa arredor de 100 toneladas por dia”, precisou Valls.

Há uma tendência a nível mundial de aproveitar toda a árvore, incluindo os restos da tala que ficam no campo. “Estamos incentivando a que se utilize a limpeza da floresta como um subproduto. Por exemplo, utilizar a casca do pino ou o chip para fazer energia, igual ao que se faz em outros países”, afirmou o assessor florestal Alejandro Seyfarth, que também participou da visita de campo pela propriedade “La Yunta”

O reflorestamento conta com incentivos econômicos por parte do governo federal argentino e a Província. Para ter direito a este incentivo, o produtor deve certificar que no ano de inicio o projeto atingiu o 95 por cento das plantações que vingaram. O máximo é até 300 hectares, como uma estratégia para incentivar aos pequenos produtores. Ao longo da vida do subsídio, seus efeitos sobre o investimento do produtor tem sido variados. Com a estabilidade econômica representaram uma compensação importante ao respeito do capital investido. Ainda que, seus efeitos diluam-se em épocas de inflação. “O negocio florestal com a pecuária é compatível e melhora substancialmente a rentabilidade dos sistemas de cria na região. Mas é necessário um manejo integrado já que, do contrário, o negocio não é nem florestal nem pecuário”, advertiu Valls.

Estabelecimento “La Yunta”

Produção florestal. Mil hectares plantadas com Pinus elliotiis, com uma densidade de 800 plantas por hectare. A taxa de extração é de 120 toneladas de madeira por dia.

Produção pecuária. Um plantel de cria de 250 vacas, com uma carga animal na pastagem de uma vaca cada 2,5 hectares. Os terneiros se vendem para invernada com 170 quilos de peso.

Cadeia forrageira. Pastoreio rotativo de espécies naturais (Festuca sp. e Stipa sp). A premissa é que o tempo que os animais permanecem na pastagem é mais importante que a quantidade de animais que pastoreiam no local.

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Relações e conexões “tudo está ligado com tudo”

Em tempos de pandemia, publicamos uma reflexão do Jorge Timmermann de um dos princípio do design em permacultura, vindo da observação dos sistemas naturais” tudo se conecta com tudo“. Mais atual, impossível! Que o momento de CAOS, gere o novo! Força, Gente!

 

 Tudo se conecta com tudo

Jorge Timmemann

Quando falamos de Permacultura dizemos que ela é holística e coerente com uma abordagem sistêmica enquanto a sua visão de como viver no planeta Terra. Ela nasce no século passado (Bill Mollison e David Holmgren, 1975) como uma síntese e proposta metodológica, no seio das várias correntes de expressões ambientalistas e ecologistas mundiais da época.

A nossa cultura nos últimos séculos (idade Moderna, séculos 15, 16, 17) foi nos afastando da natureza em consonância com o avanço do conhecimento científico; sendo que isto último, longe de ser um problema, foi um custo necessário. O conhecimento humano tinha explodido num universo de saberes onde a Física e a Matemática fizeram o papel preponderante, dentre as outras ciências, em decorrência do acumulo de novos conhecimentos/evidências científicas que explicavam o antes inexplicável: Universo, Matéria e Energia.

Mas, no seio desta revolução do pensamento, mecanicista e cartesiana, já existiam os primórdios de uma nova concepção no que diz respeito à compreensão do nosso mundo, da natureza, como uma unidade sistêmica. Em referência a isto, podemos lembrar que Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o precursor do método científico, logo consagrado na Revolução Científica (séculos 16 e 17) na linha dos trabalhos de Nicolas Copérnico, Johannes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon, Renné Descartes e Isaac Newton. Também é de destaque o fato que a “ciência” de Leonardo não era para dominar a natureza… senão que se espelhava nela; no dizer de Fritjof Kapra “Esta atitude de considerar a natureza como modelo e mentora (dos seus projetos) está sendo, novamente, incentivada 500 anos depois de Leonardo, na prática do planejamento ecológico”(Fritjof Kapra (2014) A Visão Sistêmica da Vida-, pag. 30). A Permacultura no seu Método de Design segue esta mesma corrente de pensamento.

 

Então, a partir dos séculos seguintes (e já na idade contemporânea, séculos 18, 19 e 20) foram-se aprimorando saberes que nos levam ao conhecimento e compreensão atual sobre Sistemas.

Einstein perguntado sobre o seu brilhantismo, disse que estava apoiado nos ombros de gigantes que vieram antes dele. Neste contexto é que podemos conceber a Permacultura como a ciência de restabelecer conexões, apoiada em muitos que vieram antes e simultaneamente a Bill Mollison e David Holmgren.

Quando nós, permacultores, falamos de conceitos de ecologia ou de princípios dos sistemas naturais, dizendo que “tudo está conectado com tudo” não fazemos outra coisa do que nos referirmos a uma das caraterísticas mais permanentes e imanentes da natureza:

“O universo dos seres vivos, a vida, no planeta Terra

está construído sobre uma sequência de funções, ciclos

e sistemas dentro de sistemas”.

Nada está fora desta configuração… Tudo foi-se complexando a partir das relações entre todos os elementos e suas relações.

Em outras palavras, a biosfera é a consequência da vida como “emergente” das suas relações multidimensionais entre todos os elementos que compartem o espaço e o tempo; sejam estes orgânicos, inorgânicos, estruturais, paisagísticos, climáticos ou topográficos, etc.

Fazer Permacultura é pensar e agir sistemicamente; é perceber a complexidade das relações do todo e criar condições, conexões, que permitam que estas se expressem, difundam e prosperem.

Alguma vez falamos que o Permacultor trabalha, no seu dia a dia, alimentando solo e sistematizando água. Fora do contexto permacultural isto pode ser visto como de estrema arrogância: como que nós vamos determinar o quanto, quando e com que o solo vai se alimentar e onde deverá estar a água? No nosso contexto, indica a intensão expressada em atividade diária, de permitir que se estabeleçam as condições mínimas para que o sistema, a nossa paisagem, possa nos prover do que estamos precisando… seja alimento, materiais de construção (fibras vegetais, madeira) água potável, etc. Ou seja permitir que as conexões, as relações existentes entre todos os elementos na nosso entorno possam se manter incólumes a pesar dos nossos impactos locais.

O ser humano é um elemento mais e não está fora da natureza, ainda que isto último e por alguns séculos, fosse a concepção generalizada, expressa no “crescei e dominai”. Somos parte da vida do planeta, que nos dá vida, e como sistema, podemos, facilmente desaparecer, e a vida na terra seguirá.

Então, que elemento é este o “elemento humano?” Podemos dizer que o que nos caracteriza é:

“ser conscientes da nossa consciência”

Com esta qualidade podemos saber o quanto somos responsáveis pelos impactos que produzimos, e quanto isto compromete o futuro da humanidade e do Planeta.

Estava eu conversando com um amigo… e surgiu o seguinte: “Se acabar a lenha que já estoquei… compro mais na cidade”

Visto no contexto do nosso “tradicional” dia a dia, de ser simples consumidores, acharíamos absolutamente aceitável. Mas… ficou uma pulga atrás da minha orelha:

“Claro, no contexto de satisfazer as minhas necessidades

o lógico é comprar mais…”

Mas no contexto ambiental amplo fica claríssimo como, neste agir, não existe nenhuma consciência das conexões e relações implícitas existentes.

Se você consome um recurso que você colhe, neste caso lenha, (mas poderia ser a água, ou uma cenoura, ou um litro de combustível, etc.), você dimensiona e sabe quanto isto custa em energia/esforço/tempo e como deverá ser consumido (limítes ao consumo); e quanto isto tem a ver com a permanência, e o que é mais importante:

“Não é um Recurso Natural, é um Serviço oferecido a você gratuitamente pela natureza”

Na Permacultura se definem três princípios éticos que norteiam as ações do permacultor. Este exemplo serve para compreender o terceiro princípio que se refere ao seguinte:

                    -Limites ao consumo;

                                                                  -Partilha justa;

                                                                                                        -Consumo consciente

O permacultor deverá ser consciente de “como” e “quanto” aproveita e usa os recursos e serviços na sua volta e quais as “conexões” que estes têm com o meio; podendo assim estabelecer uma relação harmônica entre necessidade e permanência. Conhecer e/ou sentir as conexões é a chave para permitir a sua permanência e/ou reestabelecimento.

Esta habilidade é “desenvolvida” e “treinada” na prática do viver a Permacultura. Na foto abaixo, a propriedade do permacultor Remi Beckauser em SC, uma enorme zona 3 para produção de renda.

O Curso de Design em Permacultura (PDC) é um start para atiçar a sensibilidade das pessoas e orientá-las para um caminho de estudo e ação (teoria e prática); que possam se espelhar na ética da Permacultura, como filtro das suas ações e nos princípios de design para a construção dos espaços humanos permanentes; espaços humanos de religação (conexão) com o ambiente.

Na foto abaixo, grupo do PDC 2018 em Yvy Porã.

Por isso falamos que um permacultor que ministra PDC tem um compromisso triplo frente aos ouvintes:

-Clareza e abertura  na leitura dos “contextos”, tanto do espaço, como dos cursantes e dos conteúdos.

Rigor  nos “conceitos” que embasam estes conteúdos.

– E tolerância  e abertura a uma multiplicidade de técnicas/”conteúdos” que possam alavancar a construção dos novos espaços.

O instrutor de PDC deve ter as competências tanto para ser um generalista que aprofunda nos “conceitos”, apoiado nos princípios de design, como um sistêmico que observa holisticamente o seu entorno, tanto na prática permacultural como no curso.

Também por isso falamos que o permacultor, que é instrutor no PDC, deve zelar com rigor pela coerência do curso enquanto à correlação dos conteúdos totais e transmitir o seu dia a dia e a sua prática vivencial.

O PDC não é um acumulado de técnicas chamativas nem uma contestação a um sistema anacrônico. É uma proposta sistêmica e holística para a construção de espaços humanos para a permanência.

O PDC é um curso ministrado por um permacultor, ele é o responsável pela coerência e correlação dos conceitos e conteúdos. Havendo a possibilidade da participação de outros instrutores, é de fundamental importância que exista UMA pessoa responsável, de forma presencial, em todo o período do PDC, o que chamamos de âncora do curso. Ele assegura a coerência,  mantém a linha e estabelece  que as conexões não sejam só uma utopia almejada… senão uma realidade na concretização da expressão:

“Todo está ligado com tudo”.

Versão em PDF Relações e conexões

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CONTEXTO CONCEITO CONTEÚDO

Os 3 Cs,  de onde vieram? O que são?

Falamos que a permacultura não é um conjunto de técnicas, mas muito mais uma proposta de ética, que para ser aplicada usa princípios de design e finalmente, escolhe técnicas apropriadas a este ou aquele contexto. A partir deste olhar, junto a minha história de vida como educadora surgiu a proposta dos três “C”:

Contexto- Conceito- Conteúdo

Disso falamos muito nos cursos, em conversas com permacultores e também neste blog. Mais de uma vez nos pediram referências de onde saiu esta síntese. É disto que se trata esta postagem, da origem dos “Três Cs”.

Há alguns anos, que remontam à década de 2000, começamos a trazer para as formações de permacultores educadores e posteriormente para as formações de instrutores de curso de design em permacultura ( PDC) embasamentos de educação, com estudos que propunham um diálogo entre Paulo Freire, Vygostki, Piaget, Fernando Hernández, Phelippe Perrenoud, Pichon Rivière; e os criadores da permacultura Bill Mollison e David Holmgren. A proposta era embasar e instrumentalizar permacultores com ferramentas básicas da pedagogia, manejo de grupos, etc. Assim aconteceram várias reuniões da Rede Permear e, posteriormente, outros cursos.

Na foto abaixo a formação de instrutores 2011 , na escola Autonomia em Florianópolis.

Cada um destes cursos propostos e mediados por mim, traziam o fazer cotidiano aprofundado nos 25 anos de atuação na Escola Autonomia, de Florianópolis e também a atuação na educação de jovens e adultos do campo no PRONERA UFSC, I-Terra RS e no projeto Saberes da Terra.

Na foto abaixo, atividade do projeto Transdisciplinar na Escola Autonomia de Florianópolis,ano 2009.

 

Falar um pouco da minha atuação na Autonomia se faz necessário, por fazer parte da minha história e construção, amadurecimento e engajamento na educação, foi ali que “nasceu” a síntese dos 3Cs. Nesta escola, além da atuação em sala de aula, também fazia assessoria com professores mais jovens sobre como trabalhar com projetos de aprendizagem, o que era uma proposta diferenciada da escola. A síntese dos três Cs se fez com base no construtivismo, isto é, que as crianças traçassem o caminho de questionar-se, construir um conhecimento, mais do que decorar e simplesmente reproduzir os conteúdos curriculares.

Explicando: a escola chamada tradicional ensina conteúdos, raramente explica a ideia, o conceito por trás dos mesmos, e mais raramente ainda dá a resposta aos educandos quando eles perguntam “onde e quando vou usar isso?”, principalmente à medida em que os conteúdos se tornam mais complexos.

Como um educador planeja sua atuação, tendo em vista a realidade da década de 2000, dos tempos escolares (200 dias letivos), carga horária e conteúdo curricular da disciplina? Bem, pensar sobre o tripé educando (quem são estes sujeitos, faixa etária, interesses, contexto social, etc), educador (quem sou, interesses, familiaridade, etc), e finalmente conteúdos (o que o social e historicamente a sociedade espera que eu ensine à esta nova geração neste momento, nesta disciplina) traz a ideia de pensar um problema para propor ao grupo, que leve à necessidade de uma determinada ferramenta para a sua solução (conteúdo).

Na foto abaixo, a construção de uma mini oca, com o primeiro ano  da professora Gi, em 2012. Esta oca era a tenda dos livros num projeto de alfabetização.

Para trabalhar com projetos a ideia é justamente partir de um problema significativo para os sujeitos envolvidos, o que não quer dizer um espontaneísmo, ou deixar o grupo num compasso de espera para decidir o que pesquisar. Os projetos de pesquisa tem como base um problema proposto para que o grupo desenvolva pesquisas e soluções, e neste caminhar acontece a aprendizagem. O problema a ser proposto tem como base no tripé formado educando- educador- conteúdos e nesta interação acontece a construção de conhecimentos.

Na foto abaixo, a turma de 3º ano da professora Lucrécia,que tinha  um projeto de horta, e contou com a assessoria do Jorge. Neste projeto estudaram medidas,  seres vivos e alimentação.

Com isso se muda a perspectiva de processo, que não deve ter como prioridade apenas os conteúdos. A perspectiva é o CONTEXTO (sujeitos, sociedade onde vivem ) CONCEITO ( qual a ideia que o problema traz) e finalmente o CONTEÚDO ( a ferramenta que será usada na resolução do problema), e chagamos ao conhecimento e a uma aprendizagem significativa. Um dos exemplos para ilustrar é na matemática, o aprendizado da regra de três para crianças de 12 anos. A regra de três é a ferramenta, a técnica, o conteúdo: Se a/b = c/d então a.d = b.c. Qual o CONCEITO que dá origem a esta regra? É um dos conceitos mais importantes para o ensino de matemática, estatística, física, química, entre outras: o conceito de Proporção. Mas onde este conceito surge e onde faz sentido? Qual o CONTEXTO onde ele aparece? E qual o Contexto que faz sentido e desperte a curiosidade para crianças de 12 anos? %, densidade populacional, estatísticas sobre assuntos diversos, etc.

Nas fotos acima e  abaixo, Suzana numa saída de estudos  da escola Autonomia à São José do Cerrito, no projeto “Duas cidades diferentes, ou nem tanto” onde matemática, geografia e língua Portuguesa estudavam Florianópolis e Cerrito, com dados estatísticos e culturais. Este projeto com os sétimos anos aconteceu de 2002 a 2012, e teve variadas formas, mas o impactante era que pré adolescentes urbanos conhecessem a vida de uma cidade pequena e rural,  percebendo a diversidade do mundo, culturas, e a relação campo-cidade e a interdependência  entre todos.

O diagrama abaixo ilustra a ideia de quem “cabe” em quem: o conteúdo cabe no conceito, pois tem sua origem nele. O conceito cabe e tem sua origem num contexto, em determinando momento sócio-historico-cultural- ambiental.

Esta estratégia de repensar o conhecimento coloca o educador numa outra relação com seus saberes e pensar em como tudo faz sentido para o outro, numa:

Educação amorosa e altruísta, pensando sobre o pensar do outro.

Isto extrapola os limites das disciplinas escolares , e pode ser usado em qualquer contexto de aprendizagem, formal e informal.

Quando me construo como permacultora, após meu PDC com Jorge Timmermann, em 2002, passo a compartilhar os saberes de educadora no contexto de permacultores, seja no blog de Yvy Porã iniciado em 2007, seja nos encontros e cursos de formação de permacultores – educadores; também aqui os três Cs mostram-se super adequados, e passam a outro patamar, extra escolar.

Muitas vezes percebo, no blog ou em conversas, que as pessoas entendem a permacultura como conjunto de técnicas. Isto pode ser o como usar super adobe para fazer uma casa, sem sequer ter o terreno para a construção da mesma; ou querer plantar mirtilos na Bahia; ou pedem para fazermos cálculos para a cisterna, sem saber quanto chove no local. Talvez isso aconteça pela grande carência das pessoas em buscar receitas ou respostas imediatas e simples aos seus problemas. Para sair da armadilha das receitas, a volta aos 3Cs sempre ajuda, por exemplo, sobre a construção da casa: “onde você está? Qual o clima, qual o terreno? Qual a ideia para sua casa? Quem vai morar nela? Que material tens disponível? Isso leva a refletir sobre o CONTEXTO. Os CONCEITOS vem a seguir, e são construir com materiais locais, uma moradia adequada, confortável, design solar, emissão zero. Só então, e finalmente vem a técnica ou o CONTEÚDO: será de super adobe, ou taipa leve, vai ter banheiro seco ou com água, qual a melhor posição no terreno, etc.

Outra pergunta recorrente, que pode ajudar a exemplificar os 3 Cs é sobre saneamento, por exemplo: banheiro seco ou banheiro com água? Banheiro com ou sem água são opções e para cada uma podem ter mais de uma técnica, um conteúdo. O conceito que vem antes é o princípio de não poluir. Quem deveria definir que banheiro será feito é o contexto , ou seja, local, clima, oferta de água, pessoas que utilizarão as instalações.

Ou seja, sintetizando:

Contexto– é o que norteia suas ações e decisões… Onde está, quais os princípios éticos que vai seguir, quem você é e em qual ambiente se encontra, o que o meio te oferece?

Conceito– os princípios mais detalhados, ou seja, o “por que” fazer algo de uma ou outra forma. Qual a ideia fundamental que será o crivo? Como permacultores: leitura de paisagem, segurança, busca de fechar ciclos, conectar elementos, baixíssimo impacto ambiental, não desperdiçar, etc.

Conteúdo– aqui entram as técnicas e materiais que são muitos, variados e fáceis de se achar na internet.

Então, este é o relato de como uma síntese feita numa educação amorosa e respeitosa com as novas gerações, dialogou com o ser permacultora e vem ajudando nos diálogos produtivos com educadores e permacultores. Minha alegria é enorme e para mim, fica demostrado, mais uma vez que, seja nas aulas de matemática na Escola Autonomia, ou numa resposta no blog de Yvy a ética de CUIDAR DAS PESSOAS permeando nossas ações sempre rendem bons frutos.

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O grande medo ao terceiro princípio da permacultura

Nesta postagem, mais uma reflexão do Jorge Timmermann, sobre a ética da Permacultura.

A permacultura desde sua origem, na de David Holmgren e Bill Mollisonn, propõe suas ações em uma ética clara, objetiva e  francamente declarada. Sem dúvida  a ética da permacultura propõe muitas reflexões e base para ações concretas. Nestas reflexões, aparecem artigos e ponderações de permacultores ao redor do mundo.

Em referência ao artigo publicado como “The Controversial Third Ethic of Permaculture” no site do Permaculture Research Institute (PRI) da Austrália, e outras iniciativas de protelar o importante para discutir o espúrio,  como é o artigo “Cuidar do Futuro” do autor, Milton Dixon, publicado originalmente no site Permaculture Pruductions LLC, é que escrevo esta postagem.

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Discutir interpretações e oferecer diferentes orientações respeito ao referido terceiro princípio ético da permacultura é, no mínimo, uma perda de tempo… ou o que eu penso, uma forma de tirar o foco do que é fundamental para nos desgastarmos no que é supérfluo.

Continuar lendo “O grande medo ao terceiro princípio da permacultura”

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Bases para um Curso de Design em Permacultura

A Permacultura vem crescendo na sua divulgação, e isso é muito bom de ver, afinal, queremos mais e mais permacultores agindo pelo mundo.

Este crescimento traz também alguns problemas, como pessoas usando o termo, dando cursos, sem a devida formação. Um curso de design em Permacultura, chamado pela sigla PDC é a base da formação de um permacultor, e aqui mesmo neste blog já publicamos sobre a seriedade desta formação. Queremos contribuir cada vez mais neste processo.

Com a propagação de cursos sem o devido cuidado e estrutura, o “Cuidado com as pessoas” fica absolutamente em segundo plano, e começam a aparecer problemas que vão desde cursos superficiais até casos extremos de assédios. Há um ano foi publicado um documento chamado Manifesto dos Aprendizes de Permacultura. Este documento mobilizou, em cada permacultor, quais ações poderíamos fazer para melhorar o aprendizado e as vivências em permacultura.

Os permacultores mais experientes, com história no Brasil, Marsha Hanzi, Claudio Sanchotene Trindade, Jorge Timmermann, Suzana Maringoni, André Soares, Lucy Legan, Peter Webb, João Roquete, Marcelo Bueno,  Carlos Miller, Skye, Ivone Riquelme, Sérgio Pamplona, preocupados com os fatos citados, formaram um grupo virtual e conversaram.

O resultado, foi que este grupo aí escreveu e publica hoje em conjunto, cada um nas suas redes sociais , sites ou blogs, um documento denominado Bases para o Curso de Design em Permacultura.

Ficamos felizes em compartilhar tal produção, fruto da maturidade deste grupo de permacultores que atuam há anos na formação das novas gerações. Esperamos contribuir com a divulgação e o crescimento da permacultura de forma responsável e consistente.

Bases para um Curso de Design em Permacultura

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Ecodesenvolvimento e Permacultura

Na postagem de hoje um artigo escrito por Jorge Timmermann, permacultor, biólogo, ecólogo, formado pela Universidade Nacional de Córdoba (Ar). Atuou como pesquisador e docente na  Universidad Nacional de Catamarca, Universidad Provincial de La Rioja. Também trabalhou como coordenador regional no Programa Nacional Algarrobo (desenvolvimento de áreas marginais), pesquisador e entomólogo no combate à doença de Chagas (Univ. Nacional de Córdoba), com participação no Serviço Nacional de Chagas (Gov. Argentino). Permacultor desde 1998, diplomado como Designer e instrutor de PDC por Bill Mollison em 2002. Participou da formação com David Holmgren para permacultores em 2007.Fundador do IPAB, da extinta Rede Brasileira de Permacultura, rede Permear, das estações de Permacultura de Yvy Porã e Waikayu em Santa Catarina.

 

 

Ecodesenvolvimento e Permacultura

Jorge Timmermann

O conceito Ecodesenvolvimento foi cunhado nos anos 70 como resposta ao marco polêmico que existia, entre os que queriam o desenvolvimento a qualquer preço e os ambientalistas. Isto acontecia na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo. Maurice Strong propôs este termo. Logo, foi ampliado pelo economista Ignacy Sachs, que o levou a outras dimensões: a econômica, a social, a cultural e a gestão participativa, além da preocupação com o meio ambiente.

Quando conheci a ecologia, nos idos anos 70, a questão fundamental a ser tratada, para resolver os problemas ambientais, era a diminuição imediata e/ou acabar com a “degradação ambiental” e a “poluição”. Estes dois conceitos eram cerne da questão ecológica. Toda a ciência ecológica, sua metodologia e ações eram orientadas a manter o mundo habitável, para nós e para as gerações futuras.

Com o passar dos últimos 50 anos, nunca deixou de me surpreender como os discursos vão mudando e as modas vão puxando os indivíduos para longe do objetivo principal (terminar com a degradação e a poluição) para levar-nos a infindáveis discussões, nos encaminhando para ações que, com muita sorte, serão meros paliativos ou simplesmente nos desorientam do que é realmente importante.

Na década de 1980 (em 1987), a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum). Nós, os ecólogos de campo, presenciamos estarrecidos como o establishment conseguia um novo triunfo negando o claro, comprometido e proativo conceito de ‘Ecodesenvolvimento” pelo moderno, estético, vago e obscuro “Desenvolvimento Sustentável”.

O que todos entendíamos como um compromisso irredutível, desde o ponto de vista ecológico, era como se deviam desenvolver os projetos ligados ao ambiente, sempre sustentados num tripé metodológico, com seu foco nas questões: ambientais, sociais e econômicas, definidas no Ecodesenvolvimento. Ou seja, com ações que priorizem a conservação ambiental (que reduzam a degradação e evitem a contaminação) que sejam socialmente justas (sem discriminação, segregação e igualando as oportunidades) economicamente viáveis (que gerem benefícios sem destruir o capital natural). Estes pontos claríssimos e inconfundíveis do Ecodesenvolvimento, transformou num obscuro justificar a sustentabilidade de um projeto pela simples sustentabilidade econômica, relegando a questão ambiental e social a um segundo plano ou esquecendo delas.

Passados os anos e salvando as distâncias observo como ainda não abordamos a questão principal com o devido cuidado. Continuamos desenvolvendo a nossa cultura, num contexto finito, provocando degradação e poluição

Fomos induzidos a acreditar que: “sempre os problemas foram criados por outros”. Que são as diferenças políticas, econômicas e/ou as duas juntas “o poder” que são os responsáveis pelo estado calamitoso da nossa gestão ambiental (ecossistemas e humanidade).

Falamos que o maior impacto ambiental (medido em porcentagem planetária de degradação de ecossistemas, perda de solos, erosão genética, etc.) foi provocado nos últimos duzentos anos. Então a culpa é da “revolução industrial”, da “revolução verde”… E se isto não for suficiente apelaremos a culpar os Impérios…

Estes cenários exemplificados, e muitos outros possíveis, são fatores concretos que levam, objetivamente, ao desfecho da crise ambiental; só que a situação atual requer de uma nova abordagem.

O nosso gênero, homo, vem transitando o planeta Terra há milhões de anos. Na sua passagem deixou um rastro permanente de degradação e/ou poluição, é só lembrar-se da salinização dos campos irrigados da mesopotâmia pelos Babilônios; a domesticação de espécies animais e vegetais que reduziu nossa dieta farta e variada a poucas variedades de espécies únicas, em prol da eficiência econômica ou diminuição de esforço com a consequente destruição e degradação de ecossistemas prístinos e criando assentamentos humanos massivos e altamente impactantes; etc.

Assim, o nosso impacto permanente e contínuo, foi se agudizando na medida em que o crescimento populacional acontecia. Há relativamente pouco tempo, algumas décadas, que somos conscientes dos “limites ao crescimento” (livro publicado pelo Club de Roma, 1972); então, já é hora de assumir esta nova realidade (que nossos antecessores não tinham) e começar a agir coerentemente com ela. Este agir é individual, intransferível e cotidiano.

Então, quando conheci à Permacultura (e lá se vão 20 anos), fiquei muito animado ao conhecer o contexto ideológico e ético da proposta da permacultura. Ela nos remete a esta ação individual, com responsabilidade e autonomia.

A sua ideologia é embasada na ecologia, e às vezes falamos que Permacultura é ecologia prática, proativa; seus princípios de ação e sua metodologia promovem, continuamente, a criação de uma cultura humana permanente.

Sua ética reflete fielmente a base do ecodesenvolvimento citadas neste texto.

O cuidado com a Terra e O cuidado com as pessoas responde ao imperativo de não degradar. Assim, nossas atividades de cunho puramente econômico, sem reconhecer o ambiente, e os indivíduos, só fazem tremer as bases ambientais, que são os ecossistemas e as pessoas que o habitam. A degradação dos ecossistemas conleva à degradação humana.

E o terceiro princípio ético, Limites ao consumo e à reprodução, e redistribuição dos excedentes? Considero a poluição ligada intimamente à quantidade, quer dizer: não é só a qualidade de um produto (veneno, adubo, etc.) ou de uma ação (despejar, não tratar, etc.) o que polui; é a quantidade deles que pode afetar de forma irreversível aos ecossistemas. Por isto a questão dos limites é tão clara e importante, nos remete à ações concretas, vivenciadas diariamente por todo e qualquer humano, esteja ele em que contexto estiver. Em relação à redistribuição dos excedentes, estamos frente a questão da igualdade de oportunidades e isto tem a ver com discriminação, exclusão, exploração, e todas as formas injustas de toma de poder.

Citei anteriormente meu entusiasmo, como ecólogo, ao conhecer a Permacultura. Esta alegria me contagiou e levou a abraçar esta ciência, filosofia e prática, por reconhecer que ela trazia respostas concretas à crise civilizatória que vivemos, e o mais interessante, ao alcance das mãos de qualquer pessoa. E o ponto que norteia toda a gama de ações da permacultura na sua concepção e na sua expressa declaração de princípios éticos, responde aos imperativos ecológicos declarados há décadas e nunca bem resolvidos: acabar com a “degradação ambiental” e a “poluição”.

A proposta de solução à crise dada pela permacultura, nos seus princípios éticos e princípios de design, pode reverter atitudes da cultura atual que priorizam o bem estar individual e o ter, que se define em prol de interesses mesquinhos.

Compreendamos o que David Holmgren e Bill Mollison pretenderam com o enunciado dos “Princípios Éticos da Permacultura”, eles propõem com clareza e concretude filtros de ações para que o homo sapiens consiga reverter o processo suicida da humanidade e construir uma cultura permanente; basta ter:

-Cuidado com a Terra

-Cuidado com as Pessoas

-Limites ao consumo e à procriação, e redistribuição dos excedentes.

Publicado em Artigos e livros

Revista Permacultura Brasil

Os permacultores Suzana e Jorge vem participando do projeto PERMAFORUM, que quer ser um espaço de materiais para estudo de artigos, tese, etc sobre permacultura.
No permaforum, juntamente com Sérgio Pamplona, do sítio Nós na Teia,  estamos publicando a revista Permacultura Brasil, e achamos importante compartilhar aqui no blog de Yvy Porã tal iniciativa.
Abaixo o texto de divulgação da revista.
Estamos orgulhosos desta divulgação, semana a semana, e esperamos contribuir para a divulgação deste importante material, que faz parte da história da permacultura no Brasil. Por isso, seguimos publicando o texto introdutório deste material: um reconhecimento às pessoas que fizeram a revista circular entre os anos de 1998 e 2004.
Com uma tiragem pequena de apenas 1000 exemplares, distribuição limitada, trabalho voluntário, mas conteúdo de primeira, ela ainda hoje surpreende aqueles que folheiam um exemplar pela qualidade da informação.
Era para ser trimestral, mas nunca conseguiu. Foram ao todo 16 edições, que fizeram muito pela divulgação da permacultura entre nós, em um tempo em que ela ainda era uma ilustre desconhecida.
Há pouco tempo, alguns jovens permacultores se deram ao trabalho de digitalizar todas essas edições, por acharem que essa informação deveria estar disponível para todos. Não temos como discordar. A partir deste momento, vamos publicar todas essas 16 edições da Permacultura Brasil neste PermaForum.
Queremos com isso, além de divulgar boa informação, fazer um reconhecimento e homenagem a todos os que deram seu tempo e energia para que ela viesse a existir, e que, por isso mesmo, fazem parte da história da permacultura no Brasil.
Ali Sharif (in memoriam), que viu a necessidade de uma publicação e bancou a revista com recursos da PAL (Permacultura America Latina).
André Soares, que ajudou a criar e a dar o pontapé inicial na revista.
Lucy Legan, que propôs e escreveu uma sessão infantil para cada edição.
Fernando J. Soares, que pegou o bastão e editou sozinho as edições de 1 a 5.
Sérgio Pamplona, que editou as revistas de 6 a 12 sozinho, e co-editou da 13 à 16.
Nina Rodrigues, que editou as edições de 13 a 16.
Adriana Morbeck, que administrou a empreitada a partir da edição 6.
E a todos os colaboradores e colaboradoras que mandaram excelentes artigos e matérias que ao final formaram esse acervo de informação. Esperamos que a divulgação virtual e gratuita deste rico material sobre permacultura inspire e estimule muitas pessoas na construção da cultura de permanência que tanto precisamos.
Publicado em Artigos e livros, Inserção na comunidade

“Simplesmente” viver a Permacultura!

Quando nos perguntam o que é permacultura sempre dá aquele branco, e brincando dizemos “quer a resposta curta ou a longa? Quanto tempo tens para ouvir a resposta?”. Brincadeiras á parte, na resposta curta dizemos que é ecologia prática, para criar ambiente humanos sustentáveis. A resposta longa implica em uma conversa mais longa sobre ética e ecologia, e um estímulo a fazer um PDC, de nove dias, ai fica bom! Também convidamos as pessoas a nos visitarem, seja pelo blog ou, pessoalmente.

Dizemos que a permacultura sem os permacultores simplesmente não existe , por este motivo seguimos dando um PDC por ano, em Yvy Porã, e colaborando na formação de instrutores de permacultura pelo Brasil. A permacultura não é religião, não é messianica, mas um conjunto de princípios, regidos por uma ética “cuidar do planeta, cuidar das pessoas, compartilhar excedentes e restringir consumo”. Esta é a zona zero da Permacultura, a área onde todas as nossas atenção e energia são colocadas, para depois passarmos a construir o espaço sustentável.

Em 2007, por ocasião da vinda de David Holmgren ao Brasil, organizada pela rede Permear, tivemos a honra e o prazer de convivermos durante dez dias com David e Su Dennet em nossa casa. Além do curso, foram muitas conversas à mesa ao longo dos dias.

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Permacultura democrática, endógena e social

No relato da história da Permacultura publicado neste blog, contamos um aspecto mais geral do Brasil. Hoje seguimos neste resgate. Pensamos que muitas vezes o papel dos mais velhos é trazer a história do que uma cultura viveu, para que os mais novos conheçam. Esta é nossa intenção hoje, nesta postagem que trará mais detalhadamente a permacultura em Santa Catarina, local onde vivemos e atuamos mais intensamente nestes quase 20 anos de permacultura.

Em muitos momentos a permacultura é rotulada como elitista, algo de classe média ou alta. Talvez esta visão seja pautada basicamente pelo fato de que a divulgação de cursos seja o que mais apareça nas redes socais e que realmente abarca este público. Questionamos profundamente esta visão, por que realmente acreditamos que muitos trabalhos com o foco da permacultura aconteçam por ai, em todos o país e poucos deles tem “tempo” para publicar isso no Facebook. Na nossa atuação como permacultores desde 1998, (Jorge) e 2002 (Suzana) participamos de processos e projetos sociais, que formaram muitos permacultores em âmbitos fora das cidades, semeando muitas possibilidades e trabalhos por ai.

Por isso, nesta postagem, que também conta mais um pouco sobre a história da Permacultura no Brasil, vamos resgatar projetos que participamos, em Santa Catarina.

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Uma breve história da Permacultura no Brasil- 1992 a 2007

De tempos em tempos as pessoas nos pedem, como permacultores mais velhos, que contemos a história da permacultura no Brasil. Já demos entrevistas, fizemos breves relatos, mas, desta vez, decidimos sentar e escrever. Não existe relato isento, toda história tem a ver com o olhar e sentimento de quem a viveu. E ainda assim, cada um vive de uma maneira a mesma situação. Então, aqui fazemos apenas um relato daquilo que vivemos, entre os anos 1998 e 2007, de forma mais detalhada.

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