Publicado em Artigos e livros, Inserção na comunidade

“Simplesmente” viver a Permacultura!

Quando nos perguntam o que é permacultura sempre dá aquele branco, e brincando dizemos “quer a resposta curta ou a longa? Quanto tempo tens para ouvir a resposta?”. Brincadeiras á parte, na resposta curta dizemos que é ecologia prática, para criar ambiente humanos sustentáveis. A resposta longa implica em uma conversa mais longa sobre ética e ecologia, e um estímulo a fazer um PDC, de nove dias, ai fica bom! Também convidamos as pessoas a nos visitarem, seja pelo blog ou, pessoalmente.

Dizemos que a permacultura sem os permacultores simplesmente não existe , por este motivo seguimos dando um PDC por ano, em Yvy Porã, e colaborando na formação de instrutores de permacultura pelo Brasil. A permacultura não é religião, não é messianica, mas um conjunto de princípios, regidos por uma ética “cuidar do planeta, cuidar das pessoas, compartilhar excedentes e restringir consumo”. Esta é a zona zero da Permacultura, a área onde todas as nossas atenção e energia são colocadas, para depois passarmos a construir o espaço sustentável.

Em 2007, por ocasião da vinda de David Holmgren ao Brasil, organizada pela rede Permear, tivemos a honra e o prazer de convivermos durante dez dias com David e Su Dennet em nossa casa. Além do curso, foram muitas conversas à mesa ao longo dos dias.

Algumas delas bastante impactantes e ilustrativas do que pensam e vivem um dos fundadores da permacultura. Uma delas dizia respeito à simplicidade do viver, onde eles diziam que provavelmente não viriam mais ao Brasil, “afinal, estamos do outro lado do mundo, e este gasto de energia não é razoável”. Também em relação aos hábitos, como a alimentação, onde produzem grande parte do que comem, incluindo animais criados por eles (cabras, galinhas e patos) e carne de caça, como lebres e cangurus, e o que não produzem compram de parceiros, incentivando o comércio e produção orgânica. David e Su vivem numa cidade de dez mil habitantes, são super envolvido com a comunidade, sem estrelismo, apenas… vivem. Viajam pouco, pois se dedicam ao espaço, ao estudo e à elaboração de artigos, livros. Para alguns seria “viver dentro da sua porteirinha!”, pois é… VIVEM.

Desnecessário dizer o quanto nossa admiração por eles aumentou e segue crescendo. Pouco tempo depois desta visita, é lançado em português o livro “Permacultura, princípios para além da sustentabilidade”, editora Via Sapiens, recomendamos a compra e leitura desta obra, e hoje vamos nos debruçar sobre uma imagem deste livro. David, brilhante como sempre, propõe uma meta leitura sobre o conceito de Zonas de um design, trazendo a leitura das zonas para a abrangência política das das ações de um permacultor.

Ainda que algumas interpretações possam achar que não se fala de política em permacultura, na nossa vivência, não existe ato humano sem política, e cada vez que opto por que água bebo, que alimento consumo e que roupa uso, por exemplo, são ações profundamente políticas. E na permacultura ela está presente no PDC todo, em blocos de conceitos chamado Estruturas invisíveis, ecologia cultivada, solos, água, energia, arquitetura apropriada, etc, etc… Ou seja, no curso todo.

Bem, uma coisa que insistimos em curso, entrevistas e conversas é exatamente este ponto: viva A permacultura. Busque seu lugar, sozinho ou em grupo, inclua-se numa pequena comunidade, ali alguns dos pontos do ser ecológico são mais fáceis e já existem, mas tem muitas opções diferentes, até para aqueles que ainda optam em ficar nas grandes cidades, como relatamos num artigo sobre estruturas invisíveis escrito em parceria com a Mônica Carapeços Arriada e publicado no site do Nós na Teia, do DF.

Somos permacultores há um bom tempo, Jorge desde 1998, e eu desde 2002, e se tem uma coisa triste que vemos é uma pessoa que opta pela permacultura, que se forma, mas fica nas teorias, sem sentar numa varanda e ver a grama crescer… Como diz o velho ditado “teoria, sem prática, é vazia…Prática, sem teoria, é perigosa”, permacultor é viver e juntar ambos . Acreditem, todos envelhecemos, e um velho permacultor sem terra é uma coisa muito, muito triste. O permacultor é um agente de mudanças, quando permanece e mostra a sustentabilidade do seu viver, interagindo numa comunidade, passando o tempo ali, ou como dissemos de Su e David , “simplesmente” VIVENDO a permacultura.

Um grande alegria que temos é ver pessoas que fizeram o PDC com a gente, família jovens, ou nem tanto, optarem por uma vida mais simples e integrada à natureza, buscando as grandes sementes de ecovilas que são os municípios pelo país com menos de 40.000 habitantes. Todas as fotos desta postagem mostram pessoas que deram esses passos, e são apenas algumas…

Muitos vão construindo toda uma nova aprendizagem, buscando mais informações, leituras, cursos e aos poucos, entendendo que uma grande formação é seguir com a teoria embasada por uma prática estação a estação, ano a ano, amadurecendo, aprendendo, ousando. Alguns fazendo uma transição gradual, aquela que vai ampliando os finais de semana no sítio. Outros que saem, compram a terra e realmente se mudam e começam a vida. Outros mudam de cidades, e seguem morando em terrenos maiores de periferia… Outros simplesmente mudam o ato de comer, mas mudam… Sim sim sim, a Permacultura é profundamente política.

Para os que optam pela mudança para áreas mais rurais ou suburbanas, são muitos desafios e aprendizados. Neste começo aprender que lixo é o que importamos da cidade, que galinhas ajudam a cuidar do jardim, e dão ovos e carne, que uma horta é um retorno muito rápido, mas que existem formigas cortadeiras; aprender que uma frutífera requer cuidados, mas depois que começa a frutificar é só alegria e frutas que uma família sozinha não consegue comer… Então, vamos fazer doces e geléias… Com um design e planejamento, algumas jovens famílias começam mesmo a planejar as economias e até a aposentadoria com o plantio de árvores restaurando florestas e com a perspectiva de exploração de madeiras em ciclos mais longos.

Aprender e descobrir as delícias do interior, do vizinho que produz leite, dos mercados com coisas locais, da escola pública e posto de saúde que funcionam, integrar-se à uma comunidade que vai nos olhar estranho, afinal, somos “os de fora”… E saber integrar-se sem a arrogância do “eu sou permacultor, e olha o que eu vou te ensinar!”! No integra-se a gente descobre que tem muito a aprender com a cultura local, os saberes locais, a experiência de um e de outro.

Em 2014 tivemos a alegria de que um das nossas filhas e seu companheiro fizeram esta opção, e se mudaram com a proposta desta vivência para Cerrito, integrando-se à comunidade e iniciando seu próprio projeto.

Para nós, foi toda uma alegria, surpresa, e desafio, afinal, como deixar que a nova geração aprenda sem uma enorme sombra dos pais? Que possam construir seu projeto sobre acertos e erros, tenham liberdade de escolher e fazer as opções cotidianas, de renda, de criação do filho, de cultivos. Tem sido um belo processo e desafio, para eles e para nós.

E assim, na mistura de saberes, de culturas, de gerações fazemos, todos a síntese vamos caminhando para realmente construir uma Cultura Permanente, vivendo a permacultura.

 

Autor:

Um casal de permacultores participantes de um projeto coletivo, construindo sua casa, seu espaço e a sustentabilidade..

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