Publicado em O entorno da casa, Permacultura, Relatos dos caminhantes, Viagens e andanças pelo mundo, Zona 2- Frutíferas, Zona 3 - cultivos em escala

Araucárias e pinhões – riquezas naturais

Visitar parceiros permacultores é sempre um prazer, uma festa, um aprendizado. Novamente subimos a serra, até o planalto catarinense para visitar nossos amigos do Sítio Raízes, e como estamos na época do pinhão, fruto da araucária, esta postagem mostra um pouco da cultura do pinhão, com dados de cultivo e a colheita deste fruto tão apreciado aqui no sul do Brasil.

A araucária (Auracária angustifolia) é a conífera brasileira, também conhecida como pinheiro do Paraná, tem uma forma linda, como se fosses braços saudando os céus. Como conífera, suas folhas sofreram adaptações para suportar as geadas, elas são como pontas de flecha, triangulares, duras, espinhentas. Estas folhas se fixam em galhos secam e que caem periodicamente, e são chamados grimpas. As grimpas são usadas para acender o fogo, pois queimam bem e rapidamente. Nas culturas dos indígenas do sul, os Xokleng, kaigangs, e bem mais ao sul, os araucanos (Araucária araucana), o pinhão era a farinha, base de muitos pratos que se faziam com este rico e calórico fruto, que na sua origem produzia muito mais farinha do que os campos de trigo plantados pelos europeus. Esta herança passou para os tropeiros que colonizaram o planalto catarinense, levando as tropas de mulas e bois, do Rio Grande do Sul para Sorocaba, em São Paulo. Várias são as receitas, como pinhão cozido, assado na fogueira (a sapecada de pinhão), a paçoca (pinhão moído , e depois misturado com linguiça, carne de porco, temperos verdes e cebola), o entrevero (pinhões inteiros com frango, linguiça, pimentão, cebola, cenoura).

Mas as araucárias também ofereciam uma linda madeira, reta, clara, e assim foram dizimadas. Na postagem de hoje vamos mostrar que alguns mitos sobre plantar araucárias são apenas mitos! E, quem sabe, estimular o plantio desta bela árvore.

Mito 1- onde se tem araucária não se colocam animais pastando, já que as gripas ferem os focinhos dos mesmos. Em sistemas de pastoreio rotativo, pode-se ter as araucárias fazendo limites dos piquetes, e a cada tanto, passar com um garfo e reunir todas as gripas aos pés das árvores, aumentado assim a proteção das suas raízes superficiais do pisoteio do gado, incrementando a fertilidade e umidade do solo nesta área. O gado pasta tranquilo e ainda tem sombra para os dias de sol mais forte.

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Mitos 2- a araucária demora mais que qualquer madeira para crescer. Ela cresce como qualquer árvore de clima temperado. Na foto abaixo uma amostra de fatia de uma araucária, que não pode ser regra, mas um exemplo. Esta árvore foi cortada de áreas que foram alagadas para a construção de hidrelétricas. Como mostram os anéis, esta planta tinha 14 anos e 28cm de diâmetro. Hoje há legislação que permite o manejo e corte de árvores plantadas para este fim.

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Mito 3- Plantar araucárias não é um cultivo rentável. Aqui vem a grande surpresa, a araucária é um plantio altamente rentável, como alimento, através dos pinhões, e não como madeira. A partir do 13º ano, mais ou menos, ela começa a frutificar. Esta frutificação é oscilante, anos maior, anos menores. 2013 é um ano de baixa frutificação, onde os frutos vem sendo colhidos intensamente e vendidos a R$3,00 o quilo ao produtor. Por todo o planalto, muitas famílias, nos fins de semana, buscam pinhões em caminhadas por estradas do interior, como renda extra. Bem num ano assim, uma planta pode dar 30 pinhas, cada pinha dá entre 1 e 2 kg de pinhão. Ou seja, cada árvore dá 60kg, que pode em média, ser vendido a R$2,00 o quilo. Ou seja, num ano de baixa produção cada árvore rende R$120,00. Levando em conta que é um cultivo extrativista, sem nenhum custo de manejo, sem necessidade de adubação, ou nada, e que em um hectare de terras se tiver 500 árvores, o que é uma baixa densidade, é uma renda acima de qualquer outra lavoura. Ou seja, vale MUITO mais a araucária em pé, do que como madeira!

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Neste fim de semana acompanhamos a colheita com o Pedro Marcos, lá no Raízes. Colher as pinhas ainda verdes, é mais fácil, pois ao caírem no chão elas não se debulham. Pedro sobe com uma escada e um bambu comprido na araucária, até atingir a altura dos galhos da árvore.Trava as pernas, fixando-se bem, e com o bambu, começa a derrubar as pinhas que ficam nas pontas dos galhos.

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As pinhas caem de alturas de 8 ou 10m, em geral, sem explodirem no chão, para a surpresa de quem acompanha a colheita.

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Vão caindo e rolando pelo pasto! Para recolher, só com luvas, ou levando com os pés, já que as pinhas tem a superfície espinhenta.

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Aqui, Pedro Marcos com a nossa colheita de um pinheiro. De uma árvore colhemos 36 pinhas e de outra foram 54, uma bela colheita, em uma meia manhã… Pinhões frescos para a família, os amigos, para cozinhar moer e congelar, para aguentar um bom tempo!

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Depois é debulhar o pinhão, entre muitas palhas, aparecem os frutos gordinhos, com casca marrom clara. Hora de cozinhar e preparar sua receita favorita!

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Obviamente este post foi escrito com um belo prato de pinhões cozidos ao lado! Bom apetite! Na sequência um pequeno video da colheita ao vivo!

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Autor:

Um casal de permacultores participantes de um projeto coletivo, construindo sua casa, seu espaço e a sustentabilidade..

Um comentário em “Araucárias e pinhões – riquezas naturais

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